É um alívio ver a expressão confusa no rosto dos meus filhos enquanto explico a eles o que eu e meu marido estamos conversando. Nosso assunto são os casos dos colégios Farroupilha e Israelita, de Porto Alegre, nos quais estudantes, entre tantas insanidades, ofendem pobres e nordestinos em discursos repletos de ódio e deboche. É triste e revoltante ver o "conteúdo" produzido por esses jovens nas redes sociais, que acham que são ou serão "patrões" dos colegas com menos dinheiro, que debocham da fome.
A eleição foi o gatilho destes casos, mas isso vem de muito antes e é profundo. Está enraizado na formação das crianças, que são esponjas quando pequenas, absorvendo e aprendendo com aquilo a que são expostas no dia a dia. Provavelmente, cresceram achando normal se considerar superior ao próximo, tendo o direito de agredi-lo e achando que o outro não tem direito algum, nem de ter seu próprio candidato. Aliás, registre-se bem que não importa quem venceu a eleição, nem se o jovem se acha superior financeiramente ou intelectualmente. Falta noção de vida, empatia, respeito e tantas outras coisas, isso quando não já se configura crime.
Se falta, quem não deu? A escola tem um papel importantíssimo em ficar atenta, reforçar valores, fazer ajustes e provocar as famílias. Mas é uma tarefa muito difícil para professores e para a instituição quando isso vem de casa. Como ter sucesso ao ensinar que é errado discriminar, ofender e ter preconceito, se a criança, muitas vezes, cresceu vendo isso ser feito por aqueles que são seus mestres para ensinar a vida? E, pelas reações que vemos quando um lado perde uma eleição para o outro extremo da nossa insistente gangorra do poder, esse tipo de comportamento é muito comum nos adultos.
Feito o desabafo de uma colunista de economia que extrapolou o território porque é mãe e tem o mantra "vamos deixar filhos melhores para o mundo ao invés de apenas ficar esperando um mundo melhor para eles". Vamos, para ontem, revisão princípios, recalcular rota. Escolas, não tratem como uma crise da instituição apenas, que se resolve com o pai tirando o filho da escola ou com uma suspensão de uma semana. É uma crise da intrínseca. Pais, não "protejam" o filho apenas tirando ele do holofote. Vamos "resetar" comportamentos, revisando os nossos próprios. Quero acreditar que há tempo.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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