O jornalista Daniel Giussani colabora com a colunista Giane Guerra, titular deste espaço
Rede com forte atuação no varejo físico, a Chilli Beans, de óculos de sol e de grau, teve que se reiventar na pandemia. Uma das apostas foi no digital, com criação de tecnologias para que os usuários “provassem” o produto pela internet. Agora, com o arrefecimento da pandemia, veem um potencial de crescimento que une as vendas presenciais e pela internet. É o que contou à coluna Caito Maia, fundador da empresa. Ele estará em Porto Alegre no sábado para participar do Congresso de Empreendedorismo Digital (Conedi) , no Salão de Atos da PUCRS. Confira trechos abaixo:
Quantas lojas vocês têm, empregos, em que países vocês estão?
A gente tem hoje mil lojas. Dessas mil , 700 lojas ficam no Brasil e são da Chilli Beans vermelha, de óculos de sol. Outras 200 lojas são da Ótica Chilli Beans, que é o produto novo que a gente lançou, de óculos de grau. São cem lojas fora do Brasil e mais um projeto chamado Eco Chilli, que por sinal Porto Alegre recebeu o primeiro. É um contêiner ecológico que colocamos lá no Embarcadero e que está está indo super bem. Nós temos hoje entre vendedores, gerentes e o time que cuida da marca, quase 4 mil pessoas, e nós estamos em 19 países.
Como é que a empresa enxerga o Rio Grande do Sul? É um mercado importante para a Chilli Beans?
É um mercado absolutamente importante. É um mercado formador de opinião. É um mercado que a gente investe e que a gente testa muita coisa. Por exemplo, esse projeto do Eco Chilli, feito contêineres sustentáveis feitos com materiais de lixo do fundo do mar, a gente pilotou em Porto Alegre. Está indo super bem. É claro que eu preciso achar alguns Embarcadeiros pelo Brasil, lugares onde você tem aquele fluxo, onde você tem aquela aquele movimento, mas a gente está super empolgado. Temos projeto para 400 Eco Chillis, esses contêineres que a gente vai colocar no Brasil nos próximos cinco anos. O projeto de expansão da Chilli Beans nos próximos cinco ano é estar com 1,2 mil lojas da Chilli Beans vermelha, mil óticas e 400 Eco Chillis.
Isso só no Brasil?
Não, a gente vai chegar em outros países. Na próxima semana, inauguramos na Austrália. Logo, também uma loja em Bali, na Indonésia. E a gente fechou um negócio com o maior grupo de varejo alemão. O projeto é abrir 74 pontos de venda nos próximos cinco anos na Alemanha, na Áustria, em Luxemburgo e na Suíça.
E vocês expandem por franquias?
Totalmente franquia.
E há expansão também para o Rio Grande do SUl?
O Rio Grande do Sul faz totalmente parte desse processo de expansão. É super importante para gente, um Estado super relevante, com poder aquisitivo. Com uma renda per capta incrível, tanto é que vale lembrar que um dos projetos que a gente testou, como falei, foi aqui, e agora vamos multiplicar.
Quando se fala em Chilli Beans, logo se pensa naquelas lojas físicas, com os produtos expostos em balcões, fáceis de testar. Quando o varejo físico deu uma freada por conta das restrições de circulação da pandemia, como foi para Chilli Beans? Como é que ficou a empresa em 2020 e 2021?
Não posso omitir e mentir pra você. Foi o momento mais delicado, mais complicado e mais preocupante da minha vida. Você imagina, da noite para o dia mais de mil lojas fechadas. Eu achei que a gente ia perder tudo. Mas aquela história né, tem males que vem para o bem. A gente está saindo da pandemia melhor que a gente entrou, em todos os sentidos assim. Como faturamento, a gente está crescendo. O ponto físico e o online. As nossas vendas online, que antes da pandemia, representavam 3%, hoje estão representando 9%. E agora, com as lojas físicas voltando a abrir, o online continuou crescendo.
Aí teve o crescimento pelas duas frentes né?
As duas frentes. E assim, não é uma coisa gratuita. No online a gente a gente criou uma tecnologia que se chama a vitrine 3D, onde você consegue experimentar o seu óculos de casa. Você clica no óculos e o formato aparece no teu rosto. Aí no varejo físico, houve uma tendência mundial de procura, por causa da pandemia, de óculos de grau. Por isso, a gente dobrou a exposição de óculos de grau nas lojas do Brasil inteiro. Então qual que é a grande mensagem? A mensagem da resiliência, onde você se movimenta, você se mexe, você vê oportunidade e aproveita aquelas oportunidades para você crescer e para fazer a coisa acontecer.
Acredito que vocês fizeram um investimento forte no e-commerce durante a pandemia, mas como está agora que as pessoas estão voltando as lojas? Hoje a empresa decide fazer investimento tanto no e-commerce quanto na loja física, ou ela está com os olhos mais focados em um desses dois segmentos?
A gente está está olhando os dois, porque a gente nunca acreditou e não acredita que vai ser só um. Eles são absolutamente complementares. Um ajuda o outro a fazer a coisa acontecer pra fazer a venda. Queria ressaltar pra você o seguinte: a gente está inaugurando daqui a 15 dias uma loja nova que chama uma loja 2.0, que é a loja conceito novo da Chilli Beans. Dentro dessa loja física tem um espaço para o vendedor fazer venda online.
Aí aproveita também os recursos humanos...
Perfeito. Só para você saber, o vendedor, ele fica no shopping, durante a semana, com uma a duas horas de tempo ocioso dentro do ponto de venda. Então, durante esse momento, a gente dá metas e dá clientes para esse meu vendedor entrar em contato com o cliente para fazer essa venda online.
Por que meio? WhatsApp ou rede própria?
São alguns meios, só que a venda mais forte acontece via catálogo online e WhatsApp. Mas o segredo dessa venda que vai muito bem hoje, ela já representa quase 15% da venda física hoje do faturamento da loja, é o seguinte: o meu vendedor sabe que você gosta, por exemplo, de óculos redondo. Então ele vai te ligar falando o seguinte: "olha cara, eu queria que você soubesse que a gente sabe que você gosta, porque o último modelo que você comprou foi um óculos redondo, e aqui na loja a gente acabou de lançar uma coleção redonda". Então a qualidade da informação que a gente dá para o vendedor, a gente tem essa tecnologia, é o que sugere e o que define o sucesso dessa ligação e dessa conversão dessa venda.
Isso é bem importante, ter informação, trabalhar com dados.
Sim, sim, porque daí você não você não é incomodado por coisas que você não quer.
A gente publicou hoje aqui até uma uma notícia que mostra o resultado do e-commerce no primeiro semestre do ano aqui no Rio Grande do Sul. A gente vê um movimento que vinha de uma escalada forte para uma fase de desaceleração e consolidação. Você percebe que o e-commerce está em fase de consolidação agora?
Perfeito. Vou te dar números meus. Durante a pandemia o e-commerce da Chilli Beans cresceu os seus 200%, 300%. Foi uma loucura. E agora, como é que ele está? Ele está crescendo um dígito, que é 9%. Então é exatamente isso. É como se a gente estivesse no segundo andar, aí a gente pulou para o nono andar, e agora a gente vai subir um degrau por vez, porque você tem agora a loja física pra complementar. A gente sempre acreditou que são canais complementares. Não existe radicalismo. Essas bobagens que as pessoas falam de tipo "vai acabar a loja física".
A produção de vocês é aqui no Brasil ou ela é no exterior?
Ela é na China.
Como que vocês estão lidando com o preço do dólar, da questão da logística. Tem uma crise de logística, os contêineres elevaram muitos preços. Isso tem impactado o resultado de vocês? Como é que está essa parte de logística?
É um desafio. Não adianta falar que não é, porque é. Você imagina que tem uma alta de dólar, você tem um contêiner que custava US$ 800 e agora custa US$ 8 mil dólares, mas a empresa conseguiu manter margens usando eficiência, inteligência de produto e eficiência interna. A gente foi atrás de negociações com as nossas fábricas na China, de usar materiais com mesma qualidade, mas com preços diferentes. Então a gente conseguiu com muito exercício fazer esse exercício de equilibrar os conceitos para você chegar em margens interessantes e combater os aumentos logísticos pelo mundo. A vantagem que a gente teve também foi que as cidades em que temos fábrica nem passaram pela covid-19. Tudo totalmente controlado. Então isso foi uma vantagem que a gente teve, a gente teve uma ótima negociação.
Os preços da matéria-prima subiram, de tudo. Vocês conseguiram controlar isso? Subiu um pouco os preços dos produtos, como é que ficou essa parte?
Não consegui repassar tudo. A gente teve que buscar eficiência em outras áreas.
Você vai estar aqui no sábado participando do congresso de empreendedorismo digital. Qual será o tema da conversa?
Eu conto o o passado, o presente e o futuro da Chilli Beans. Eu falo sobre a revolução tecnológica que aconteceu dentro da marca durante a pandemia, porque realmente a gente é uma outra empresa completamente diferente depois da pandemia. E a gente tem no final uma coisa legal que a gente está fazendo que é superdivertido e que tem funcionado pra caramba, que é o seguinte: eu faço uma coisa chamada "pinga fogo". O que é o pinga fogo? Eu abro para perguntas no final da minha palestra, só que as perguntas não são sobre a Chilli Beans. As perguntas estão vindo dos negócios das pessoas que vão estar lá, então acontece um debate superinteressante onde a pessoa pega e fala "olha, poxa, meu nome é Daniel, eu sou dono de uma marca de tênis e tenho uma preocupação, eu tenho uma uma uma dor que eu não consigo fazer marketing". Daí a gente debate esse assunto na frente dos outros e isso vira uma conversa muito interessante, e tem funcionado superlegal. Então no final da minha palestra tem um debate chamado Pinga Fogo onde as pessoas perguntam dos negócios delas para ver consegue achar algum caminho, dar alguma luz pras pessoas.
Por que a Chilli Beans é uma outra empresa depois da pandemia?
Vários motivos. É uma empresa muito mais consciente com a natureza. Vale lembrar que hoje 30% dos óculos que a gente tem são feitos com materiais reciclados feitos com lixo do fundo do mar. Todos os 4 milhões de estojos dos óculos e relógios que a gente coloca no mercado são todos feitos com materiais reciclados. A empresa é contra o home office radical, mas ela é a favor do equilíbrio, então a gente tem um home office híbrido, coisa que a gente não tinha antes, que eu acho superlegal. Uma consciência com a qualidade de vida. E a gente passou a ser uma empresa mais ágil, mais rápida, mais produtiva. Então a gente hoje faz mais com menos, e isso foi uma dor, uma sobrevivência que aconteceu durante a a pandemia que a gente evoluiu de um jeito muito especial. Então eu te falo que hoje nós estamos saindo melhor que a gente entrou.
Se tu tivesse que dar um conselho para os pequenos empresários, talvez olhando para o varejo como um todo, o conselho que tu acredita ser fundamental para o pequeno, para o médio, qual seria?
Eu tenho um conceito na vida de três pilares que eles regem tudo e qualquer tipo de uma empresa. O primeiro pilar é realmente o investimento em marca. Ter consciência clara de quanto marca faz diferença. Você investir na sua marca, você exercitar a sua marca, porque marca é o que vai te diferenciar. O que vai fazer você valer mais e que vai diferenciar o seu produto. A segunda é contar a história do produto. É super importante que as pessoas entrem a fundo na hora do consumidor colocar o produto. Uma camisa fala da inspiração, fala do filho, fala da tecnologia. Isso vai diferenciar você do concorrente e você não vai ficar brigando por preço. O último pilar são pessoas. Sem pessoas você não é nada. Você ter pessoas incríveis do seu lado para fazer as coisas acontecerem, isso faz toda a diferença. Então resumindo: marca, contar história por produto, e pessoas. Essa é a dica que eu dou.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
Leia aqui outras notícias da coluna
Experimente um jeito mais prático de se informar: tenha o aplicativo de GZH no seu celular. Com ele, você vai ter acesso rápido a todos os nossos conteúdos sempre que quiser. É simples e super intuitivo, do jeito que você gosta.
Baixe grátis na loja de aplicativos do seu aparelho: App Store para modelos iOS e Google Play para modelos Android.