Em visita à metade do sul do Estado, a coluna conheceu o terminal de contêineres que fica no porto de Rio Grande. Lá, assistiu a uma apresentação sobre o empreendimento e conversou com o diretor-presidente do Tecon Rio Grande, Paulo Bertinetti:
Por que a sua ênfase na necessidade e na oportunidade que a cidade tem para atrair indústrias?
Não tem dúvida de que a base do Rio Grande do Sul está no agronegócio, que vem se modernizando em uma velocidade enorme. Podemos ter uma indústria voltada ao desenvolvimento de equipamentos, tecnologia para o agronegócio e principalmente para componentes que usam os insumos produzidos no Rio Grande do Sul, como aço ou resinas. Eles podem ser trabalhados em uma indústria aqui, mas são, normalmente, importados por nós. Nossa indústria pode montar outros produtos para irem para exportação. Aí, eu vejo que a indústria é o desenvolvimento de tudo.
E a proximidade do porto é um atrativo, só que precisa ser vendido.
Perfeito. Não se vende nada se a gente não fizer propaganda. A mídia é importantíssima em mostrar os nossos ativos e as qualidades que a gente tem nas operações. Isso é uma marca do porto de Rio Grande. E temos um distrito industrial que está do outro lado da rua.
Como é o distrito industrial?
O nosso distrito industrial conta com mais de 2,5 mil hectares e fica exatamente de frente a todo completo de terminais, do outro lado da avenida. Estamos falando de metros de uso logístico para sair da fábrica e vir para o porto. É o exemplo do porto da Antuérpia, na Suécia, que se reinventou na década de 90. Era um dos piores portos da Europa e levou a fábrica da GM para dentro do porto, ficando há 25 metros do cais para carregar sua carga, e hoje é um dos principais portos europeus. Nós temos essa possibilidade fantástica. Só falta a indústria, porque o porto já existe. Nós temos condição de oferecer vantagem de custo logístico, de rapidez, de acessibilidade.
Quais segmentos da indústria que o senhor gostaria de ver primeiro desembarcando aqui em Rio Grande com unidades fabris?
Eu gostaria de ver muita tecnologia. Pelo que eu vejo das importações gaúchas, precisamos de eletrônicos. Essa indústria é limpa, rápida, não precisa de grandes espaços, e temos insumos que nos permitem produzir isso aqui, para alavancar e continuar alavancando a indústria gaúcha. Não concorrer, mas fazer uma escala de produção aqui daquilo que é importado, principalmente nessas questões de tecnologia, e com uma visão mais voltada para os equipamentos do agronegócio. Nós temos a John Deere, nós temos a AGCO. Temos várias empresas.
Que agregam valor ao que é nossa vocação...
Exatamente. Nós teríamos uma produção mais rápida, com alta tecnologia, com qualidade, e que agregaria valor ao nosso produto do agronegócio, que nós somos maravilhosamente produtores de sucesso. Soja, milho, arroz, no gado. Olha o que a gente podia melhorar na nossa soja. A própria alimentação para vender para os outros.
Santa Catarina e Rio Grande do Sul têm disputado investimentos e cargas também. Comente sobre isso.
A gente avançou muito na questão de briga fiscal que sempre existiu. Principalmente Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo, todos contra Santa Catarina em função das grandes vantagens tributárias que eles ofereciam para importação. Esse foi o boom dos portos catarinenses. As importações se direcionaram para lá por conta dessas vantagens. Nosso governador, depois de um trabalho muito bom e forte, feito, inclusive, com apoio do secretário Gastal (Cláudio Gastal, do Planejamento), do secretário Neves (Ricardo Neves Pereira, da Receita Estadual), a gente conseguiu que o governador fosse parceiro, assinando o decreto de isonomia fiscal para os Estados do Sul. Podemos fazer a mesma coisa que Paraná e Santa Catarina. Só acho que temos que ter mais divulgação e mais velocidade nos ajustes. Nós temos uma isonomia fiscal para indústria, para o gaúcho que produz. Lá em Santa Catarina, já estenderam isso para trades, para quem faz negócio com o material, que não produz. Compra e vende. Isso é uma outra vantagem que eles avançaram e que o Rio Grande do Sul precisa estar atento e rápido, porque se não, não conseguimos trazer. Não é roubar carga de Santa Catarina, mas manter nossa carga aqui, embarcando pelo Rio Grande do Sul, já que ela está produzindo aqui, e nós atrairmos mais indústrias para podermos desenvolver mais o nosso Estado.
Para fechar, vamos falar da questão logística mundial. O gargalo dos contêineres vazios. Como isso tem reflexo no terminal de contêineres no porto de Rio Grande?
Com a pandemia, e com a bagunça de mercado que aconteceu em função das paralisações na China, que é o centro de negócios do mundo, o coração da logística... No pós-pandemia, depois daquela posição de explosão da pandemia, o mercado sedento voltou a atuar, e os Estados Unidos que lidera a compra e venda, produziu um congestionamento que se espalhou pelo mundo. E o que acontece? Não está faltando contêiner. Os contêineres estão cheios na água, dentro dos navios. A produção não aumentou tanto assim, o que bagunçou foi a logística. Nós trabalhamos com janelas de atracação como aeroportos. Tem dia, hora e local para o avião sair. Aqui é a mesma coisa. Tem dia, hora e o tempo que o navio vai ficar no terminal. Antes, a gente tinha 85% de acerto nas janelas, hoje estamos com 15%, 17%, o resto é bagunça. Por conta desse congestionamento. Aí falta contêiner vazio para nosso exportador. E olhamos para outro lado, em direção à Santa Catarina, lá estão os terminais de Itajaí, Navegantes e Itapuá que são de propriedade dos armadores. E como tem mais importação lá do que aqui, ele leva a carga de importação mais para lá ainda e oferece para nossos clientes gaúchos que a exportação vá para lá. A hegemonia dos armadores, tendo terminais e dominando os fretes — com esse congestionamento, os fretes que custavam US$ 1 mil, passaram para US$ 15 mil. O armador nunca ganhou tanto dinheiro como está ganhando agora, e está dominando completamente, não só a água, mas com a vinda para terra, dizem que eles que é uma verticalização, eu chamo de hegemonia educadamente.
Ouça a entrevista em áudio:
Ouça o programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha):
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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