O CEO da Target foi a melhor participação do primeiro dia da 112ª NRF, feira de varejo realizada em Nova York. Brian Cornell comanda uma gigante do varejo criada em 1902 e que tem, atualmente, mais de 1,9 mil lojas. Ele mostrou uma visão otimista, o que é bem característico do varejo, porém falou sobre os problemas e como a empresa lida com eles. Cornell disse que os números estão bons, que os consumidores estão voltando às lojas, mas sabe que ainda está se convivendo com a covid-19 (os Estados Unidos estão com recorde de internações, especialmente entre não vacinados), inflação, falta de insumos e de mão de obra qualificada. E como a Target lida com isso:
- Claro que a gente quer uma bola de cristal para ver o que vai acontecer dessa variante, mas colocamos no foco a flexibilidade, estar perto do consumidor. Precisamos antecipar as coisas e fazer os ajustes necessários no decorrer do caminho.
Citou que, mesmo na pandemia, a Target investiu bilhões de dólares nas lojas e alcançou o crescimento. O executivo enfatizou, claro, o avanço do delivery.
- Não tínhamos articulado estratégia, não tínhamos ideia desse desafio, não sabia como fazer o produto aparecer no carro do cliente sem contato físico. Mas os investimentos nisso valeram a pena e vão fazer sentido no futuro.
Apesar do avanço do e-commerce, Brian Cornell mostrou confiança no varejo físico. Segundo ele, haverá equilíbrio entre o "amor do consumidor em estar dentro da loja e a segurança de chegar no estacionamento da Target para um funcionário colocar o produto dentro do porta-malas."
Para 2022, ele aposta no andamento do projeto no Congresso do projeto de infraestrutura de Joe Biden. O CEO da Target vê como uma medida importante de longo prazo para evitar novas rupturas na cadeia de suprimentos.
- Temos uma cadeia de suprimentos para suportar aumento de 3% no e-commerce, mas ele cresceu 30%. O consumidor fica frustrado por não ter produto na prateleira.
Enquanto não se resolve o problema em definitivo, Cornell sugeriu paliativos, como levar os contêineres para outros portos, atuar fora do horário de pico e trabalhar 24h por dia.
Sobre a inflação, ele disse que os Estados Unidos já vivenciaram altas de preços em outros momentos, apesar de o índice de 7% de 2021 ter sido o maior em 40 anos. O executivo aposta na adaptação do consumidor ao momento:
- O consumidor consolida a compra onde tem preço mais baixo. Vão comer mais em casa, vão comprar outra marca de massa, vão dirigir menos. Temos é que estar seguros para atender o consumidor neste ambiente. Estou aí há muito tempo, sei que os preços estão aumentando, sei que com a demanda baixa, vamos falar como vamos baixar preço, dando o nível de serviço que o consumidor quer. Os consumidores são adaptáveis. No Natal, começaram a comprar em outubro sabendo que os produtos não estariam disponíveis.
Aliás, a falta de produtos é uma preocupação do presidente do Sindicato dos Lojistas de Porto Alegre (Sindilojas POA), Paulo Roberto Kruse. Também aqui na NRF, em Nova York, o executivo alerta para os próximos meses, especialmente na indústria de confecções.
- As lojas não estão mais comprando da China (frete caro e logística estrangulada). Muitas redes estão fabricando no Brasil.
Falando assim, parece que o consumo que subiu tanto que as fábricas não estão dando conta. Mas não é isso. O fornecimento caiu e os preços subiram demais. Sobre a nacionalização da produção, até pode parecer bom, mas o vice-presidente do Sindilojas, Arcione Piva, pondera que a indústria brasileira não tem essa capacidade para suprir o varejo.
- Ela se desindustrializou, e não é rápido para recuperar.
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* A coluna Acerto de Contas, do Grupo RBS, está em Nova York para cobrir a 112a. NRF, feira anual de varejo, a convite de Sindilojas Porto Alegre e CDL Porto Alegre. Participa do grupo FFX Eperience.