Começa neste domingo (16), a 112ª NRF, evento mais tradicional do mundo para o varejo. Depois de uma edição online, a feira volta ao presencial. A coluna está aqui em Nova York para cobrir pela quarta vez o evento, além de diversas visitas técnicas. Para antecipar o que se espera da NRF, o programa Acerto de Contas, da Rádio Gaúcha, conversou com o empresário Tiago Pessoa de Mello, especialista em transformação digital no varejo, executivo da Stone/Linx e curador do grupo FFX Experience, que tem visitado diversas lojas de Nova York há semanas para sentir "o clima" do setor.
O que deve vir de legal e diferente na NRF deste ano?
A NRF deste ano é um presente para quem é do varejo. O varejo teve a covid-19 que aconteceu no mundo em março de 2020, a gente chegou a ter uma retomada, depois veio essa nova variante Ômicron, que está tendo uma pequena restrição novamente, as lojas reduzindo horário de funcionamento, mas já é uma NRF onde o varejo aprendeu a lidar com a pandemia, a usar suas garras e outros artifícios para chegar até o cliente. Acelerou muito todas as transformações que já vinham acontecendo dentro do setor. Nessa NRF, vai ser muito bom poder ver o próprio varejista falando disso. O que eles fizeram para poderem continuar vivos, continuar crescendo. O que eles fizeram de diferente, quais são as principais transformações, porque NRF é um evento que fala sobre o futuro do varejo. Ela pega o varejo e fala: nos próximos cinco anos, é isso aqui que vai acontecer. Então, vai ser uma nova visão com todo o aprendizado que a gente teve com a pandemia, com toda a aceleração. O que eu tenho de previsão é ver muita coisa de "super local", de muita conexão com a comunidade, entrega rápida, conseguir entregar em um, dois dias.
De repente grandes marcas atuando como comércio de bairro, por exemplo?
Perfeito. Esse é um grande desafio que as marcas sempre quiseram conseguir fazer, mas nunca conseguiam, porque não conseguiam ter as ferramentas necessárias. E eu acho que a tecnologia vem para adicionar isso. Possibilitar que cada marca consiga utilizar os seus dados para saber quem é o cliente, como ele compra, o que ele gosta, e ter a peça mais próxima do cliente. Acho que esse vai ser um grande desafio do varejista. Abrir lojas que, muitas vezes, vão ser lojas híbridas, aceitando o cliente e servindo de centro de distribuição, mas muitas vezes vão ser lojas que serão só centros de distribuição no local. Ou marcas que têm lojas grandes, de mais de 10 mil metros quadrados, que estão abrindo lojas pequenas, de 150 metros quadrados, para ser ponto de coleta e ajuste para atender os clientes que têm dúvida para comprar online ou devolver. São conceitos que veremos cada vez mais.
No Brasil, tenho percebido que aumentou na pandemia a descentralização dos centros de distribuição, seja usando as próprias lojas, seja as grandes redes colocando centros de distribuição no Rio Grande do Sul, por exemplo, quando antes tinham só em São Paulo. Exatamente para poder entregar mais rápido.
São dois aspectos. Você tem o aspecto da entrega maior, mas tem também o aspecto da oferta maior. Eu montei uma operação de e-commerce para uma marca que era majoritariamente física, possuía mais de cem lojas físicas, e o e-commerce. Ela tinha 70 mil peças dentro do seu e-commerce para vender para seus clientes, e em cada loja física, ela tinha 50 mil peças. Quando a gente pluga todo o estoque do varejo físico dentro do e-commerce, além da maior capilaridade do produto estar mais perto do cliente para o frete ser mais rápido, você sai de um e-commerce com 70 mil peças disponíveis para um e-commerce que, com 50 mil peças para cem lojas, eu já tenho 5 milhões de peças disponíveis. O que muda é que a variedade e profundidade são muito maiores. Se o cliente gostou daquele produto, ele provavelmente só não irá achar o tamanho dele se não tiver em nenhuma loja, e também muda a proximidade e o potencial de o cliente comprar agora e passar daqui uma ou duas horas para retirar o produto. Tudo isso, essa fusão omnichannel, ela já é realidade aqui nos Estados Unidos. Praticamente todas as lojas aqui de Nova York têm uma venda omnichannel consolidada. E é uma realidade que no Brasil a gente está amadurecendo. As grandes marcas já chegaram lá, mas um varejista médio, pequeno, ainda está caminhando para chegar, e a tecnologia está caminhando para entender como pode ajudar ele melhor, e, com certeza em breve, a gente vai ter isso resolvido.
Um dos pontos da tecnologia é mostrar que tipo de produto tem que estar em determinada região, porque lá vende mais, porque é o perfil do consumidor. A tecnologia, entre outras coisas, é usada para isso também?
Perfeito. De verdade, muda tudo. A gente, como varejista do mundo físico, sempre fez planejamento de loja pensando na loja física. Então, a gente falava assim: essa loja, os melhores produtos para estar dentro dela são esses. Cada vez mais, no mundo "omni", você não pensa mais na loja, mas no local, no bairro. Você pensa quantas peças precisa ter disponível naquele bairro, onde tenho que posicionar. Existem vários softwares e empresas de tecnologia que ajudam você a tomar essa decisão. Mas, mais uma vez: essa é uma agenda mais madura, que aqui nos Estados Unidos está sendo cada vez mais tratada. No Brasil, os grandes começaram, ainda estão evoluindo, mas a gente vai trazer, pode ter certeza, que para os próximos um, dois anos, isso tá forte no Brasil para o médio e pequeno varejista.
Falando sobre o evento em si. O espaço em que ele é realizado aumentou bastante?
O Jacob Javits, que é nome do centro de convenções de Nova York, já foi o maior centro de convenções dos Estados Unidos. Aí, ele ficou em 14º lugar. E não querendo ficar para trás, eles fizeram uma reforma e aumentaram em 40% do espaço. Esse ano, ainda muito por causa da Ômicron, a gente vai ter menos pessoas do que o normal. Historicamente, são 47 mil pessoas que vão para NRF, esse ano deve ter cerca de 25 mil pessoas, mas em um espaço reformado, mais amplo e mais agradável para o pessoal consumir, porque hoje Nova York tem, novamente, o maior centro de convenções dos Estados Unidos e o segundo maior do mundo.
Ele fica perto de uma área que está sendo revitalizada em Nova York. Isso?
O Jacob Javits é do lado do Hudson Yards. O rio Hudson, que é no lado do Jacob Javits, naquela área, tinha trilhos de metrô. Era onde todos ficavam estacionados quando terminava o dia ou o serviço. Aí, veio uma empresa que fez um projeto gigante de manter as linhas e construir, por cima, prédios de 130, 140 andares. E criou-se o Hudson Yards com a Related, que é essa empresa. Eles conseguiram grande incentivo da prefeitura de Nova York. Foi super polêmico para a cidade, mas há uma previsão que o Hudson Yards, sozinho, aumente o PIB de Nova York em 5%. Eles tentaram fazer uma cidade inteligente. Eles fizeram 11 torres e, dentro delas, tem umas que são parte hotel, parte escritório, parte casa, parte faculdade. Dentro do mesmo prédio, você tem uma cidade. Tem shopping, supermercado, lugar para show. É uma área super moderna que está revitalizando e trazendo novidades para Nova York, que já é uma cidade super consolidada e bem construída. Não havia muitos espaços grandes para construir, e o jeito foi fazer isso em cima dos trilhos do metrô, que continuam passando por baixo.
* A coluna Acerto de Contas, do Grupo RBS, está em Nova York para cobrir a 112a. NRF, feira anual de varejo, a convite de Sindilojas Porto Alegre e CDL Porto Alegre.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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