Decidir vender é uma coisa, ter quem compre e pague o preço almejado é outra. Claro que, quando uma empresa anuncia um IPO, sigla em inglês da oferta inicial de ações, costuma haver um amplo estudo de oportunidades de mercado que identifique interesse de investidores. Nesta quinta-feira (18), o governador Eduardo Leite anunciou a abertura de capital da Corsan, o que ele havia dito na campanha que não faria. A decisão agora tem origem no marco do saneamento e na incapacidade da estatal de cumprir o que está determinado.
Pelo modelo apresentado, a Corsan deixará de ser estatal em outubro. É uma privatização. O governo do Estado não teria mais o controle da empresa, ficando com apenas cerca de 30% das ações. Seria apenas um acionista referência, mas que os demais, se juntando, teriam mais poder. A ideia é que o controle seja pulverizado entre os acionistas.
Leite falou ainda que R$ 1 bilhão dos recursos obtidos seriam colocados para capitalizar a empresa e valorizá-la mais. Ainda na apresentação, foi divulgada uma série de dados, que incluem um enorme passivo trabalhista. Isso pesa contra. Por outro lado, não ser o Estado no controle conta a favor para investidores.
Para ter uma ideia de quão atrativas serão as ações da Corsan para o mercado financeiro, a coluna traz algumas análises de investidores:
Wagner Salaverry, sócio da gestora de fundos Quantitas Asset:
"O Governo do Estado mostrar interesse em vender ações da Corsan é positivo, naturalmente, ainda que a operação tenha sido pensada muito provavelmente por conta das obrigações que o novo marco do saneamento impôs a todas empresas do setor no país. A questão é ver se o mercado terá interesse na companhia. A gestão será feita por uma empresa privada que se tornará acionista majoritária? Os números atuais da empresa sequer mostram uma situação de gestão superior às pares Sabesp e Copasa, também estatais. Qual será a atratividade de se tornar acionista da companhia? A gestão será privada (com alguém que o mercado confia) ou estatal? Com tantos recursos para serem investidos e que serão necessários para a adequação ao marco do saneamento, e em meio a riscos políticos naturalmente elevados de interferências em tarifas pelo poder público, este setor é bastante arriscado para os investidores. O Banrisul, por exemplo, negocia com um valor de mercado 40% abaixo do seu patrimônio líquido, um dos mais baixos entre os bancos. Banco do Brasil negocia 30% abaixo do seu patrimônio líquido, enquanto os bancos privados com valores acima do patrimônio. Sinal de que os investidores colocam bastante desconto na gestão pública de bancos."
Rodrigo Sisnandes Pereira, CEO da Fundação Família Previdência (antiga Fundação CEEE de Seguridade Social):
"Sem dúvida, a Corsan é um ativo com alto potencial de atrair um grande número de investidores não só pelos investimentos exigidos pelo novo marco do saneamento, mas porque trabalha com um produto essencial com alta demanda cuja a receita apresenta certa estabilidade. Do lado negativo, são as garantias em manutenção dos atuais contratos com os municípios, mas nada que dificulte o sucesso na abertura do capital da companhia. Como maior investidor institucional do Estado, certamente vamos avaliar a participação."
Rafael Rigotto, sócio da Messem Investimentos:
"Antes de falar da Corsan, quero falar do setor. É um setor que vemos com bons olhos. Ainda mais pegando carona no novo marco do saneamento. Mas é preciso ter cuidado com o momento que estamos vivendo, com muitas oscilações no mercado. Para o final do ano, esperamos uma bolsa positiva com resultado bacana para o investidor. Mas, até lá, será um caminho com muitos altos e baixos. Teremos oportunidades de curto prazo, mas com volatilidade. Então, precisa de cuidado. O setor de saneamento é atrativo, de futuro. Não podemos falar do IPO em si, mas da empresa e do setor."
A coluna seguirá trazendo mais opiniões. Acompanhe.
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Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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