Uma iniciativa que começou nos Estados Unidos, ganhou uma versão nacional e agora tem também um perfil gaúcho no Twitter. O movimento é o Sleeping Giants ("gigantes adormecidos"), criado ainda em 2016 com o objetivo de alertar empresas que suas publicidades automáticas podem estar sendo veiculadas em sites que propagam notícias falsas, estimulando a desinformação.
Recentemente, a versão brasileira alertou sobre anúncios do Banco do Brasil no site Jornal da Cidade Online. O banco retirou a publicidade, mas os filhos do presidente Jair Bolsonaro acusaram o Sleeping Giants de viés ideológico e o BB retomou os anúncios. Pouco depois, o Tribunal de Contas da União (TCU) atendeu a um pedido do Ministério Público de Contas, que alegou interferência indevida na área de comunicação social do banco por parte do vereador Carlos Bolsonaro e manteve a proibição da empresa estatal anunciar no site.
A versão gaudéria do Sleeping Giants, claro, foca em empresas do Rio Grande do Sul. No Twitter, está como @slpng_giants_RS e já recebeu a indicação do movimento nacional para ser seguido também.
- Não estamos dizendo que essas empresas anunciam deliberadamente em sites que divulgam fake news e discurso de ódio. Temos a sincera compreensão de que muitas não sabem que podem bloquear esse tipo de site na ferramenta do AdSense. Mas também sabemos que muitas fazem vista grossa, afinal, até então, ninguém se importava e todos anunciavam - comenta o criador do movimento no Estado, que, por motivos de segurança, preferiu não se identificar, mas conversou com a coluna pelo próprio perfil na rede social.
O processo do Sleeping Giants é simples. É eleito um site apontado como propagador de fake news por agências de checagem. Então, os perfis globais, nacionais e locais trabalham especificamente naquele site até que ele não tenha mais anúncios.
- Quando abrimos a página em questão e encontramos alguma marca sendo divulgada por lá, tiramos um print da tela. Em muitos casos, nossos seguidores nos enviam o print. Depois de análise do material e da empresa, o print é divulgado via tweet para o perfil oficial da empresa anunciante, avisando que sua marca foi divulgada em site não recomendável e há o pedido para que o bloqueie.
Até o momento, a ação já teve vários retornos por parte das empresas. Entre as que já responderam para o perfil nacional, regional ou diretamente aos seguidores, estão a Dell, PUCRS, Banrisul, Tumelero/Telhanorte (ambas da Saint-Gobain), Mercedes, Casa do Papel, Petz, UCS e Unisinos. O movimento ainda divulga as respostas e recomenda os serviços das empresas que os respondem. Outras empresas, no entanto, ainda não se manifestaram.
- As pessoas entenderam de imediato a proposta, tanto consumidores como anunciantes. Parece que todos ansiavam por isso. Ninguém mais aguenta o ambiente nauseante que se tornou a internet brasileira - comenta.
Mais sobre a versão gaúcha
A ideia de fazer uma versão focada no Rio Grande do Sul aconteceu depois de o organizador ler sobre o movimento e perceber que já havia uma versão nacional. O algoritmo de anúncio permite que a divulgação seja bem regionalizada, com uso de muitas marcas locais, dependendo de quem está navegando na internet. Foi então que a pessoa que administra o perfil gaúcho entrou em contato com a equipe do Sleeping Giants nacional e combinou sobre o perfil local. Perguntado pela coluna o por que de não se identificar, o criador gaúcho comentou sobre as ameaças que o criador da conta nos Estados Unidos recebeu. A coluna também perguntou sobre o que ele poderia falar sobre si mesmo.
- O assunto sempre me interessou e me envolveu com pesquisas afins, pois sou da área de Comunicação. Tenho especialização em Psicologia aplicada à área e em gestão. Sempre defendi que são os consumidores, o povo em geral, que, organizados, detêm o maior poder deste mundo capitalista globalizado, de consertar todos os males causados à sociedade e ao nosso planeta, causados pela falta de reflexão e de valores humanos aplicada ao atual sistema.
A conta regional foi criada na última quarta-feira (20). Até o fechamento desta coluna, tinha 1,7 mil seguidores. A versão nacional, com foco em empresas brasileiras, já conta com mais de 320 mil seguidores, ultrapassando o movimento norte-americano, que conta com cerca de 280 mil seguidores.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
Siga Giane Guerra no Facebook
Leia mais notícias da colunista