Antes de qualquer confirmação no governo federal, o mercado financeiro já tinha ficado sabendo do pedido de demissão do ministro da Saúde, Nelson Teich, e já repercutia firmando uma queda no Ibovespa, índice com as ações mais negociadas na bolsa de valores de São Paulo (B3). Antes, estava resistindo no positivo com elevação do petróleo no mercado internacional e com o bom resultado operacional da Petrobras, apesar do prejuízo contábil gigante. Após a saída de Teich, chegou a ter uma queda um pouco acima de 1,5%, mas que foi perdendo força. O mesmo com o dólar, que subiu alguns centavos para logo depois recuar e ainda ficar longe da barreira dos R$ 6, ainda não batida.
Claro que investidores ficarão de olho na fala de Teich explicando a decisão e também no seu substituto, mas quando Henrique Mandetta saiu, os indicadores ficaram parecidos. Aliás, tem até ação de empresa que se beneficia, já que ambos tinham um pensamento geral até bastante parecido no combate à pandemia, defendendo o isolamento e com ressalvas ao uso da cloroquina. Mas no geral, pega mesmo para o investidor a imagem de desunião.
Só que a intensidade do impacto não é tanta porque o "fiador" do mercado é o ministro da Economia, avisa o sócio da Quantitas Asset Wagner Salaverry. Os ruídos, sejam fracos ou muito fortes, quando geram a saída de ministros, não costumam ter boa repercussão. Mas, quando alguma notícia de problemas no governo ameaça respingar em Paulo Guedes, é que o bicho pega. Isso aconteceu, por exemplo, com a saída de Sérgio Moro do ministério da Justiça e seu discurso forte no dia, quase provocando um circuit breaker na bolsa de São Paulo. Caiu mais de 9% naquela tarde e, mais um pouco, seria a suspensão dos negócios. Moro era considerado um dos ministros fortes de Bolsonaro, exatamente como Guedes.
- O mercado observa todos esses movimentos do presidente sempre com o viés e a ótica do impacto potencial no Paulo Guedes. Isso é o principal. Ninguém vê com bons olhos medidas que só causem ruído, demonstrem a falta de tato e capacidade de lidar com opiniões opostas do presidente, mas o mercado é pragmático - complementa Salaverry.
Toda vez que Jair Bolsonaro aparece com Guedes e diz que ele é o "homem que dá o norte ao governo", é para acalmar o mercado porque alguma coisa gerou ruídos sobre a saída do ministro da Economia. A mais recente foi para sinalizar que vetaria a pedido de Guedes o reajuste de servidores.
Paulo Guedes tem mostrado sempre apoio à área da saúde. Desde que Mandetta ainda estava no governo, o ministro da Economia defendeu a política de isolamento e, lá no fim de março, dizia que a economia brasileira seguraria as pontas por dois meses. Semana passada, no entanto, já referendou o que os empresários falavam de que está chegando na UTI.
- Tempo da quarentena, segurança de Guedes no cargo e sua capacidade de ditar a agenda econômica, bem como capacidade de o governo ter alguma base no Congresso para futuramente aprovar reformas são os pontos de atenção neste momento - acrescenta Salaverry.
Ainda no final de semana, em transmissão ao vivo com o setor bancário, Guedes disse ainda acredita na possibilidade de uma retomada em "V" da economia, o que seria o melhor dos mundos, mas opinião compartilhada somente entre os muito otimistas. Voltou a falar que o ajuste fiscal segue no radar para após a pandemia e reforça as exportações como a salvação para um impacto menor neste momento na economia.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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