O dólar, que já vinha em alta nas últimas semanas, disparou novamente na manhã desta quinta-feira (23) registrando novos recordes nominais, com o cenário político no Brasil e com o pessimismo mundial nas bolsas. A cotação da moeda chegou a bater R$ 5,72, gerando novos leilões por parte do Banco Central. A autoridade monetária tem feito com frequência injeções de dólares no mercado para evitar as altas tão intensas durante o pregão. Com sete propostas, vendeu US$ 545 milhões à vista.
Além disso, a bolsa despenca. Índice da bolsa de valores de São Paulo, a B3, o Ibovespa chegou a cair mais de 9% no início de tarde, voltando aos 73 mil pontos. Se a queda batesse 10%, a bolsa acionaria o circuit breaker e os negócios ficariam suspensos por 30 minutos. Mas, depois, desacelerou a queda e voltou para uma desvalorização aproximada de 7%. Todas as 73 ações do Ibovespa estão em queda, com destaque negativo para a Eletrobras (-16%), que é estatal e o investidor vem apostando na sua privatização.
Os motivos são vários. Em especial, no Brasil, temos a tensão política que gerou e a que será gerada pelo pedido de demissão do ministro da Justiça, Sérgio Moro. Quando saiu a informação à tarde passada, a bolsa já caiu e não se projetava um recuo tão intenso hoje, com o fato se concretizando. No entanto, o discurso de Moro foi forte e preocupante. Os investidores projetam o que isso trará de impacto na própria economia e na condução das medidas de combate à pandemia, já que Moro era uma pessoa de grande força na equipe ministerial. O ministro da Economia, Paulo Guedes, desmarcou compromissos que tinham pela manhã, inclusive uma fala com investidores. Há até o receio de um impacto dessa situação na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, que está marcada para daqui a duas semanas. As apostas eram de que o Copom faria uma redução significativa na taxa de juro Selic para estimular a economia. Ela está em 3,75% ao ano, o menor patamar histórico.
Além desse cenário interno do país, temos o exterior que intensifica o cenário negativo no mercado financeiro. As bolsas asiáticas fecharam em queda, comportamento semelhante ocorreu na Europa. Os balanços trimestrais das empresas jorram dados negativos do impacto da covid-19 sobre os negócios. Além disso, uma reportagem do Financial Times trouxe informações frustrantes sobre o testes da Gilead Sciences na aplicação do remdesivir em pacientes com coronavírus, o que tinha animado os mercados financeiros no final da semana passada.
Apesar desse índice tão negativo da bolsa, os mercados dos Estados Unidos agora abrem em alta, após uma queda ontem. O petróleo está com valorização e, além disso, com menor volatilidade.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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