A bolsa de valores de São Paulo, a B3, já acionou duas vezes o mecanismo de circuit breaker nesta quinta-feira (12). O primeiro foi às 10h21 desta quinta-feira (12). Com isso, os negócios ficaram suspensos por 30 minutos. O Ibovespa estava caindo mais de 11,65%, atingindo 75.247,25 pontos.
As negociações foram retomadas pouco antes das 11h, com o Ibovespa já caindo 11,85%. Logo depois, às 11h13, atingiu queda de 15,43%, acionando novamente o circuit breaker. Agora, a suspensão foi por uma hora e a retomada ocorreu às 12h13, com todas as ações sendo negociadas apenas em leilão. Foi a quarta vez na semana em que o circuit breaker foi ativado, o que nunca ocorreu dentro desse período de tempo.
Quando parou a negociação pela segunda vez nesta quinta, o índice estava em 72.027 pontos. As ações da Petrobras e da Vale caíam com força. São empresas de commodities, bastante sucetíveis a desaceleração da economia global. Forte recuo também nas ações da Azul, acima de -30%. Além da queda que está ocorrendo nas companhias aéreas com os cancelamentos de viagens, a empresa divulgou um comunicado cancelando planejamento de negócios para 2020.
As suspensões estão ocorrendo mesmo que várias ações estejam sendo negociadas apenas em leilão, avisa o analista de mercado Wagner Salaverry, sócio da Quantitas Asset. É um mecanismo para evitar fortes oscilações, quando as ações saem do pregão, mas continuam sendo negociadas. As ofertas de compra e venda são registradas pela bolsa até que todas sejam aceitas. Os negócios são fechados apenas depois desse procedimento.
Por volta das 14h, a bolsa quase acionou o terceiro circuit breaker, o que iria interromper os negócios por prazo indeterminado. O Ibovespa caía 19,59%, quando foram anunciadas medidas de estímulo financeiro pela regional de Nova York do Federal Reserve (FED), o banco central dos Estados Unidos. A autoridade monetária informou que oferecerá mais US$ 1 trilhão em liquidez ao mercado monetário por meio de duas operações. Logo depois, a bolsa de São Paulo amenizou a queda, passando a recuar cerca de 17%.
O primeiro circuit breaker da semana ocorreu na segunda-feira, com o petróleo despencando no mercado internacional. O outro foi à tarde passada, logo após a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter declarado pandemia do coronavírus.
A suspensão da entrada de alguns viajantes da Europa nos Estados Unidos veio após o fechamento do mercado brasileiro à tarde passada, derrubando hoje as bolsas asiáticas e europeias. A pior queda foi no Japão, de -4,41%. Alemanha e Londres recuam mais de 5%. As negociações futuras já foram suspensas em circuit breaker nos Estados Unidos. O petróleo tem queda superior a 5% no mercado internacional.
Há ainda um fator doméstico, além do impacto mundial do coronavírus na economia. O Congresso Nacional derrubou o veto do presidente Jair Bolsonaro que aumentava para meio salário mínimo o limite da renda familiar per capita para idosos e pessoas com deficiência terem acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC). A regra anterior previa o limite em um quarto do salário mínimo. O governo tentou evitar a derrubada do veto sob a argumentação de que isso criaria despesas obrigatórias não previstas em lei, com impacto de cerca de R$ 20 bilhões por ano. Em dez anos, a alta nos gastos públicos pode chegar a R$ 217 bilhões.
O dólar comercial sobe em torno de 3%. A moeda chegou a superar R$ 5,02 na abertura, atingindo o limite de alta. O Banco Central realizou um leilão e a intervenção da autoridade monetária fez a cotação recuar para R$ 4,89.
Entenda o circuit breaker
O circuit breaker é um procedimento operacional da B3 que interrompe a negociação de ativos em bolsa. Ele é acionado somente em momentos atípicos de mercado, como durante uma forte queda de preços, baseada na oscilação do Ibovespa, o principal índice de ações do mercado brasileiro. Durante o acionamento do circuit breaker, não é possível realizar compras ou vendas de ativos na B3. O acionamento do circuit breaker é feito em 3 estágios, obedecendo a percentuais de desvalorização do Ibovespa:
Estágio I - quando o Ibovespa desvalorizar 10% em relação ao valor de fechamento do Ibovespa do dia anterior, a negociação é interrompida por 30 (trinta) minutos.
Estágio II - reabertas as negociações, caso a variação do Ibovespa atinja oscilação negativa de 15% em relação ao valor de fechamento do dia anterior, a negociação é novamente interrompida por 1 hora.
Estágio III - reabertas as negociações, caso a variação do Ibovespa atinja oscilação negativa de 20% em relação ao índice de fechamento do dia anterior, a B3 pode determinar a suspensão da negociação por um período por ela definido. Nesse caso, o mercado será comunicado pelos canais oficiais da B3.
Vale lembrar que o acionamento desses estágios não pode ocorrer nos 30 minutos finais da sessão de negociação do dia. Se a interrupção da negociação ocorrer na última hora da sessão de negociação, o horário de encerramento será prorrogado por, no máximo, 30 minutos para reabertura e negociação ininterrupta dos ativos e dos derivativos.
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Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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