A largada de dezembro começou "com emoção" a partir dos tweets do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na rede social. Já no início da manhã aqui no Brasil, antes mesmo da abertura dos mercado futuros, o líder da maior economia do mundo disparou reclamações contra Brasil e Argentina. Ele acusou os dois países de desvalorizarem "fortemente" suas moedas e anunciou a retomada das tarifas sobre aço e alumínio dos dois países, sobretaxas que estavam flexibilizadas desde agosto de 2018.
O dólar futuro já abriu um pouco "estressado", com alta. No entanto, recuou um pouco em seguida. Ações de siderúrgicas devem ter desvalorização na bolsa de valores de São Paulo.
— Ficaremos de olho em Gerdau (GGBR4), Usiminas (USIM5) e Siderúrgica Nacional (CSNA3). E ainda a Vale (VALE3), mas vamos ver como ela se comporta, pois minério fechou em alta na China — avisa o sócio da Monte Bravo Investimentos, Bruno Madruga, que brinca já estar no terceiro café do dia.
Economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre, Oscar Frank calculou as exportações gaúchas de aço e alumínio para os Estados Unidos. De janeiro a novembro de 2019, foram US$ 51,5 milhões. Os embarques representam 4,3% de tudo que o Rio Grande do Sul vende para o mercado norte-americano.
Em poucas mensagens no Twitter, Trump atira para vários lados. Diz que os agricultores norte-americanos são prejudicados pela valorização do dólar em relação ao real e ao peso argentino. Com o câmbio dessa forma, realmente as commodities brasileiras ficam mais competitivas no mercado internacional.
Mas a prática do protecionismo e de retaliações é bastante frequente no governo dos Estados Unidos. Isso aparece na análise do sócio da gestora de fundos Quantitas, Wagner Salaverry:
— Pode significar várias coisas. Desde ele querer sinalizar aos chineses que a aplicação de tarifas continuará ocorrendo, até uma sinalização para o eleitorado do setor industrial que ele continuará “protegendo” a indústria americana dos concorrentes externos.
Lembrando que, na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, realmente deu uma declaração que elevou o dólar, ao dizer que o Brasil tinha de se acostumar com o câmbio neste patamar e que não estava preocupado com isso. A cotação subiu para R$ 4,27 no dia seguinte, batendo recorde. No entanto, os dias seguintes trouxeram diversas intervenções do Banco Central para segurar a disparada, algo que a autoridade monetária tinha avisado que não faria.
Na sequência de reclamações de Trump, sobrou para o Federal Reserve, que é o banco central norte-americano. Mas isso não é novidade, já que o presidente aproveita todas as oportunidades para criticar a autoridade monetária, na série de pressões por mais agressividade na redução da taxa de juro.
Antes da metralhadora Trump, o dia tinha a expectativa de alguma manifestação tranquilizadora e não mais lenha na fogueira. Investidores apostavam na sinalização de aprovação da fase 1 do acordo entre Estados Unidos e China, evitando sobretaxas às importações que estão para entrar em vigor.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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