Totalmente fora da curva das empresas em crise, uma fábrica de Gravataí está há um ano preparando os 240 funcionários para o pior. Há poucas semanas, quando foi batido o martelo de que a Amvian Indústria e Comércio de Peças Automotivas teria de encerrar as atividades, começou um trabalho interno que é ainda mais incomum: recolocar em outras empresas os trabalhadores que começaram a perder seus empregos.
Gerente da unidade gaúcha do grupo norte-americano, Sérgio Moretti se emociona quando conta que, mesmo sabendo que a empresa fechará em dezembro, nenhum funcionário está faltando ao trabalho. Enquanto outras indústrias não pagam verbas rescisórias, a Amviam prometeu um salário extra para quem aguentar as pontas até o final.
— Já trabalhei em vários países, mas nunca com pessoas tão competentes e dedicadas — diz Moretti.
A unidade produz estruturas para bancos de veículos, que são usadas nos carros da General Motors (GM). A empresa não fechou contrato para o modelo novo da montadora. A coluna Acerto de Contas noticiou a previsão de fechamento há poucas semanas, quando já destacou que Moretti procurava vagas de emprego para seus funcionários até mesmo nas concorrentes. Após a publicação, a Amviam foi procurada por outras empresas, que já ofereceram 70 vagas.
— Destacamos, então, duas pessoas só para atualizar os currículos dos nossos funcionários. Também estamos disponibilizando carro para as pessoas irem nas entrevistas de emprego até mesmo dentro do horário de trabalho — conta o gestor.
No último dia 17, a coluna foi visitar a planta da Amvian em Gravataí, na região Metropolitana de Porto Alegre, e teve um longa conversa com Moretti. Também aproveitou a oportunidade para conhecer a empresa e falar com funcionários.
— Assim que soube da situação da planta, fui falar com outras montadoras, fui pessoalmente conversar com chefes de outras empresas, falar de nossos funcionários. O quão bons eles são. Fiz isso porque queria que já chegassem ofertas de trabalho. Graças a isso, consegui realocar 42 funcionários. Depois, com a notícia de vocês, esse número aumentou ainda mais.
A auxiliar fiscal Débora Oliveira é uma das funcionárias que ficou com a missão de atualizar os currículos dos colegas:
— Eu achei uma ação fantástica. É uma empresa diferenciada, sempre se preocupou muito com os funcionários. Ajudei com alegria — conta a auxiliar.
Saulo Dugarte, soldador, está na empresa há aproximadamente nove meses. Ele também se surpreendeu ao ver como a direção lidou com a situação:
— Sempre foram muito transparentes e querem ajudar bastante. Pegaram o nome e o telefone de todos e ajudaram no currículo. Achei uma atitude muito bonita.
A última peça para a GM será produzida em 31 de outubro. De lá até o final do ano, a Amvian de Gravataí deve manter atividades com um número reduzido de funcionários.
— Posso garantir que o trabalhar gaúcho é diferenciado — conclui o gestor, ao justificar, mais uma vez, o porquê de estar tão focado em ajudar seus funcionários.
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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