Na semana passada, um dos maiores grupos do setor de shoppings centers do país, o BR Malls, comprou outra parte do Shopping Iguatemi Caxias do Sul, na serra gaúcha. Foi uma fração adicional de 25,5% da ABL total, que é a área bruta locável. Com isso, a participação da companhia de capital aberto no empreendimento passa para 71%. A transação foi avaliada em R$ 84,34 milhões.
E ontem, a mesma empresa confirmou que fechou a venda de sete shoppings para um fundo imobiliário administrado pelo BTG Pactual. O valor do negócio foi de R$ 696 milhões. Nenhum fica no Rio Grande do Sul. No comunicado detalhando as negociações, a companhia, que teve alta nas ações negociadas em bolsa, disse que a reestruturação visa a eliminar ativos que não sejam considerados essenciais para o negócio.
O futuro dos shoppings centers é um dilema do varejo. As administradoras dos empreendimentos revisam o mix de operações, os lojistas refletem onde manterão suas unidades e os consumidores questionam a abertura de novos shoppings, alegando que não enxergam movimento para tantos. Chegam a citar a onda de fechamento de centros comerciais ocorrida nos Estados Unidos.
Pois no texto em que detalha sua estratégia, a BR Malls diz acreditar na perenidade dos shoppings no mercado brasileiro, citando fatores como localização urbana, força em entretenimento, gastronomia, serviços, segurança e conforto. Pondera, no entanto, que o consumidor está cada vez mais exigente e que o e-commerce está deixando os lojistas seletivos na escolha dos shoppings.
"Os melhores retornos sobre capital serão proporcionados pelos shoppings que detenham a preferência dos clientes, ou seja, aqueles muito bem posicionados, dominantes, com mix completo, em grandes mercados e integrados a soluções omnichannel", diz trecho de análise da BR Malls.
A empresa defende que o shopping precisa abraçar novas tecnologias, ecossistemas, soluções de marketplaces, logística e inteligência de dados. E isso deve ser feito com urgência, devido à velocidade das mudanças. Por isso, diz estar "esculpindo" seu portfólio. Manterá dois tipos de empreendimentos:
- Shoppings de grande porte, alcance regional, líderes nos seus mercados, mix completo e ótima experiência.
- Shoppings de bairro considerados excelentes, com ótima localização, conveniência e alta produtividade.
Antecipa que fará modernizações, revitalizações, reforço de mix de operações, mais modelos de gastronomia e lazer. Promete maior fluidez nas negociações com lojistas, o que costuma ser uma briga no setor. Por fim, não descarta novas aquisições de shoppings.
Lembrando que a BR Malls fechou parceria e investiu na Delivery Center. Criada em Porto Alegre, a empresa atua como plataforma para integrar sites de venda online com as lojas e fazer a entrega física dos produtos.
Shopping ideal
Ainda no ano passado, ao completar 15 anos e para projetar os próximos 15, o Shopping Total encomendou uma pesquisa para a empresa 8 Total Brand que resultou em 1.069 slides, aos quais a coluna teve acesso. Foi uma pesquisa qualitativa, entrevistando lojistas e consumidores. Um destaque é que ir ao shopping não é mais um programa como antigamente, quando as pessoas ficavam passeando por horas sem rumo pelos corredores. O tempo dos consumidores diminuiu. Mas, ainda assim, é considerado um local procurado por conveniência e, principalmente, segurança.
Aliás, segurança foi a palavra mais citada pelos entrevistados quando se perguntava "falando sobre shopping center, o que vem à cabeça?". Só depois, apareciam "praticidade", "caro", "compras" e "tumulto".
Alguns depoimentos dos clientes:
- “Poder ver as vitrines com calma e segurança.”
- “Tumulto, mas necessário pela praticidade e segurança.”
- “Estacionamento seguro.”
Uma das conclusões do estudo é que as pessoas querem otimizar o tempo, mas com segurança. Por isso, o shopping segue sendo a primeira opção quando o assunto é compras.
O superintendente do Shopping Total, Eduardo Oltramari, está atento à mudança de comportamento. As pessoas querem gastar menos tempo comprando e mais tempo vivendo. Também buscam a experiência, o que torna ainda mais importante o treinamento dos funcionários.
— O varejo se modifica todo o dia. É preciso usar a criatividade. Aliás, ninguém passou incólume à crise. A grande franquia do momento nas ruas é "vende-se" e "aluga-se". Se o varejo tradicional sofreu isso, os shoppings também - analisa Eduardo Oltramari.
Então, qual o shopping ideal?
Conforme a pesquisa, que um local que seja tranquilo, não muito grande, mas que tenha tudo. Ah, e que ainda surpreenda o cliente. Ou seja, talvez não se pareça com um shopping tradicional.
Ouça entrevista completa feita na época com Eduardo Oltramari para o programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha):