O PIB de janeiro a março veio exatamente como o esperado pelo mercado, uma queda de 0,2% sobre o último trimestre de 2018. A decepção com a tão esperada retomada da economia já era realidade entre os chamados agentes econômicos do país, que incluem desde empresários até operadoras da bolsa, passando pelos próprios consumidores.
Muito do recuo do PIB está na queda de confiança. Os indicadores de tendência mostram isso. Alguns trazem recuos tão intensos que já devolveram todo o otimismo ganho desde o resultado da eleição presidencial de 2018, que de largada agradou o mercado.
Onde aparece o pessimismo no PIB divulgado pelo IBGE nesta quinta-feira (30)? Em especial em um variável de nome complicado, chamada de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Ela mede o quanto as empresas aumentaram ou deixaram de aumentar os seus bens de capital, ou seja, aqueles bens que servem para produzir outros bens. São basicamente máquinas, equipamentos e material de construção. A sua importância está no fato de indicar se a capacidade de produção do país está crescendo e também se os empresários estão confiantes - ou não - no futuro. Ou seja, é um indicador de tendência, o que é importante para qualquer um que trabalhe com projeções e planejamentos.
Sem crescer desde 2013, a FBCF avançou 4,1% em 2018 sobre 2017. Agora, começou 2019 em queda. Fechou o primeiro trimestre com recuo de 1,7%, depois de já ter caído 2,5% no período anterior. O desânimo dos empresários aparece aqui, esfriando os planos de investimento nas companhias.
Em relação ao primeiro trimestre do ano passado, a Formação Bruta de Capital Fixo ainda tem avanço, de 0,9%. Houve aumento da importação de máquinas e equipamentos, o que compensou a queda na produção de bens de capital e da construção.
Brumadinho
A forte queda na indústria extrativa (-6,3%) teve um grande peso também no recuo do PIB. Além da tragédia social, o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG) exerceu forte impacto na economia.
— E o consequente estado de alerta de outros sítios de mineração afetaram todo o setor - explica a gerente de Contas Nacionais do IBGE, Claudia Dionísio.
As indústrias de transformação (-0,5%), puxadas por São Paulo, e da construção (-2,0%) também afetaram os serviços, que variaram +0,2%. Ou seja, o crescimento poderia ter sido maior. Dois grupos de atividades de peso no setor ficaram negativos: comércio; e transportes e armazenagem.
E agora?
Há uma expectativa no mercado de que a queda do PIB, sendo a primeira desde 2016, possa levar a uma redução da taxa de juro Selic. O Banco Central sempre deixa claro que a política monetária é para controlar inflação e não para estimular econonomia. No entanto, o resultado fraco tende a provocar reflexão nos integrantes do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom).
O acumulado de 12 meses, embora positivo com +0,9%, fica bem abaixo do previsto pelo mercado para 2019. A projeção de crescimento é de 1,23%, segundo o último relatório Focus, divulgado pelo Banco Central. É ainda menor do que se considera para um patamar ideal de crescimentro para o PIB brasileira, que é de 3%.
Para a economia engatar, há uma solução objetiva, porém complexa. É preciso que as reformas andem no Congresso para trazer otimismo. Tanto a da Previdência quanto a tributária.