Giane Guerra

Giane Guerra

Jornalista de Economia, apresentadora da Rádio Gaúcha e comentarista da RBS TV, traz notícias, comentários e dicas da macroeconomia às finanças pessoais.

Caixa Preta

Juro sobe para o consumidor mesmo com manutenção da taxa Selic

A alta ocorreu exatamente nas linhas mais caras: cheque especial e cartão de crédito

Giane Guerra

Economia

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Jefferson Botega / Agencia RBS

Após 12 meses em queda, os juros das operações de crédito para pessoa física tiveram alta em março. A pesquisa é da Associação Nacional de Executivos de Finanças (Anefac). A taxa média geral para o consumidor subiu 0,15%, passando para 6,72% ao mês, ou seja, 118,25% ao ano. 

Das seis linhas de crédito pesquisadas, empréstimo pessoal com financeiras ficou estável. Juros do comércio, financiamento de veículos e empréstimo pessoal com bancos ainda caíram. A elevação ocorreu nas taxas do cartão de crédito e do cheque especial, que são exatamente as mais altas do mercado. Veja as taxas cobradas no mês passado:

Cartão de crédito
Ao mês 11,48%
Ao ano 268,44%

Cheque especial
Ao mês 11,75%
Ao ano 279,29%

— Acredito que essa pequena alta no mês de março já esteja associada à evolução mais lenta do que o esperado da atividade econômica brasileira na arrancada de 2019. Se a renda em circulação é menor, cresce a probabilidade de inadimplência e, consequentemente, os juros são mais altos — comenta o economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank. 

Mas a Selic, chamada de taxa básica da economia brasileira, não está no mesmo patamar desde o ano passado? Por que o juro sobe para o consumidor? A pergunta é frequente entre leitores da coluna Acerto de Contas e foi uma das mais citadas no concurso cultural Visita do Leitor GZH, quando assinantes de GaúchaZH enviaram questões sobre economia para serem selecionados para uma visita à redação. 

A Selic, na verdade, é apenas uma referência. É definida pelo Banco Central na reunião que ocorre a cada 45 dias do Comitê de Política Monetária (Copom) e está em 6,5% ao ano. As instituições financeiras e empresas têm liberdade de definir o juro que cobrarão do consumidor, desde que não seja considerado abusivo, o que abre espaço depois para constestação judicial. 

Só que, realmente, as taxas de juros no país são uma caixa preta. Em geral, instituições financeiras atribuem a alta do juro ao aumento da inadimplência, o que elevaria o risco de não receber o pagamento dividindo o custo disso entre todos os tomadores de crédito. Só que o acompanhamento dos anos mostra que nem sempre o juro cai quando a inadimplência fica menor. E nem sempre houve aumento das dívidas atrasadas quando há elevação das taxas das operações de crédito.

Então, surgem outros questionamentos. A concentração bancária do Brasil traz menos concorrência entre instituições financeiras, exigindo que sejam menos agressivas ao oferecer boas taxas ao consumidor. A margem de ganho dos bancos é alta, o que os leitores consideram evidente nas divulgações trimestrais de lucros bilionários. 

A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) discorda disso. Recentemente, a entidade publicou um livro sobre o assunto apontando quatro custos que geram o juro alto: lentidão do judiciário, leis trabalhistas, tributos e a já citada inadimplência elevada. 

A Febraban apontou 21 propostas para redução do juro. O primeiro ponto é o cadastro positivo, que teve uma lei sancionada nesta semana. A torcida é que realmente ele baixe os juros para não abater ainda mais a credibilidade do brasileiro, que está esperando até hoje que os preços das passagens caiam desde que as companhias aéreas passaram a cobrar pela bagagem despachada. 

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