Na mesma semana, duas pesquisas de emprego no país trouxeram dados bem diferentes e deixam os leitores confusos, questionando a coluna Acerto de Contas. Na terça-feira (26), o Ministério da Economia divulgou que o Brasil registrou abertura de 173.139 vagas formais de emprego em fevereiro. São os tradicionais dados mensais do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
O número veio acima das estimativas. Por outro lado, a pesquisa divulgada pelo IBGE nesta sexta-feira (29), veio pior do que o esperado. Bem pior, eu diria. O desemprego aumentou e o número de brasileiros que desistiram de procurar trabalho bate recorde no país.
A taxa de desocupação ficou em 12,4% no trimestre fechado em fevereiro, acima dos 11,6% registrados no período encerrado em novembro. O aumento representou a entrada de 892 mil pessoas na população desempregada, totalizando 13,1 milhões de trabalhadores.
A taxa de subutilização da força de trabalho ficou em 24,6%, somando 27,9 milhões de pessoas, pico da série histórica iniciada em 2012. São pessoas que poderiam estar trabalhando mais horas. Outro dado delicado é o de pessoas desalentadas, como o IBGE chama quem desistiu de procurar trabalho. Atingiu 4,9 milhões, 4,4% da população, que também é recorde da série.
Mas como dados tão opostos? As pesquisas têm metodologias bem diferentes, a começar pelo período analisado. O IBGE considera o trimestre encerrado em fevereiro, ou seja, o dado inclui o desempenho de dezembro e janeiro. Já o Caged é restrito ao mês. Outro ponto é que o Caged considera informações repassadas pelas empresas, com dados exatos. O IBGE faz pesquisa por amostragem e calcula estimativas.
No entanto, o maior impacto na diferença é do tipo de trabalho pesquisado. O Caged considera apenas emprego com carteira assinada e aponta o saldo entre as demissões e contratações. O IBGE inclui também emprego sem carteira, trabalho por contra própria e até mesmo empregadores, com e sem CNPJ.
Para se ter uma ideia da relevância do emprego informal, o número de empregados no setor privado com carteira assinada é de 33 milhões de pessoas, enquanto o contingente sem carteira atinge 11,1 milhões. E a pesquisa do instituto trouxe exatamente como destaque a perda de postos de trabalho em setores que geram um número considerável de empregos informais.
— A perda no grupo de Administração Pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais se deu, basicamente, na educação, que perdeu 470 mil de pessoas. Esse processo também afeta muito o empregado sem carteira, principalmente na construção e indústria - explica o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.
Por outro lado, o rendimento médio mensal real atingiu o pico da série iniciada em 2012 pelo IBGE. O valor passou para R$ 2.285, aumento de R$ 35 em relação ao trimestre encerrado em novembro. Essa alta pode ter sido, inclusive, influenciada pela redução no contingente de trabalhadores sem carteira assinada, postos de trabalho que costumam ter remuneração menor.