Meu marido sempre foi romântico. Em geral, românticos gostam de dar flores. Eu também sou romântica. Ao menos, me considero. Só que nem toda romântica gosta de ganhar flores. Eu, por exemplo.
Começamos a namorar no início dos anos 2000, ainda estagiários da Rádio Gaúcha. Volta e meia, ganhava flores dele. Mas, em especial, no nosso aniversário juntos. Casamos no papel, no religioso e fizemos festa em anos diferentes. Então, a nossa data do coração sempre vai ser o dia do primeiro beijo.
Quase sempre ganho rosas. Para ele, era simbólico me dar uma rosa por ano juntos, a cada aniversário nosso. Então, de uma rosa sozinha evoluímos para um ramalhete imenso, já que se passavam mais de 10 anos do nosso início.
Eram lindas e cheirosas, mas eu nunca gostei de ganhar as rosas. Se era por durarem pouco, por ser uma pessoa que sempre compra presentes úteis ou porque queria outras coisas, não sei dizer. Curtia o carinho do marido, a lembrança, o cuidado de marcar a data ano após ano. Não chegava a odiar as rosas, mas queria amá-las pelo tanto que significavam para nós. Não sentir isso me incomodava.
Até que um dia, em um almoço na RBS, onde ainda trabalhamos juntos, o assunto na mesa era ganhar flores. Eu fiquei quieta. A esta altura, já não tinha mais coragem de falar o que seria muito menos impactante admitir no início do namoro. Foi então que uma das colegas, a Júlia, disse que não gostava e começou a perguntar para as outras se gostavam. Uma por uma.
Não mexi a cabeça. Só olhei para o marido e vi o queixo dele caindo lentamente. Silêncio até começarem as explicações. Eu me justificando para ele. Nós contextualizando o climão para os colegas. O almoço terminou com muita risada, mas o marido guardou a informação.
Em 2017, eu e Jocimar fizemos 15 anos lado a lado. Pensei nas rosas várias vezes naquele dia. Cheguei em casa e tinha um vaso na mesa, mas dentro havia um maço de tempero verde. Com direito a salsa e cebolinha. Como sempre, com um bilhete amável e um presente.
Não contei os talos para checar se havia 15 mesmo. Sei que renderam duas refeições bem temperadas para a família. Bem do jeito que eu gosto.
* A colunista publicou este texto inicialmente em um projeto dos 60 anos da RBS, em 2017. Provocada pelos ouvintes da Rádio Gaúcha por ocasião do Dia das Mães, publica novamente aqui em GaúchaZH.