Quando o governo gaúcho decidiu vender ações do Banrisul, a direção do banco sinalizava que os papéis estariam em um bom patamar de preços quando a operação ocorresse, o que deve ser no início de dezembro. O presidente da instituição, Luiz Gonzaga Veras Mota, avisou que o próximo balanço financeiro seria bom o suficiente para atrair grandes investidores, que estariam interessados em ganhos de longo prazo e com o pagamento de dividendos.
A divulgação do resultado financeiro ocorreu nesta segunda-feira. O lucro líquido do Banrisul atingiu R$ 536,7 milhões, que é uma alta de 8,5% na comparação com o mesmo período do ano passado.
"Reflete o menor fluxo de despesas de provisão para crédito; a estabilidade da margem financeira; o crescimento, ainda que moderado, das receitas de tarifas e serviços e a elevação das despesas administrativas - estas, decorrentes do custo variável representado pelo volume de operações da rede de adquirência e da produção de crédito consignado através da promotora de vendas, não constituindo custo fixo, estando relacionadas ao incremento de negócios." - detalha o comunicado do Banrisul.
Sócio da Quantitas, Wagner Salaverry avalia que veio como o esperado. A carteira de crédito ficou praticamente estável, com alta de 1,1%.
— Mas boa parte do crescimento veio de operações com consignado (+30,5%), que já representam R$ 10,7 bilhões de um total de R$ 30,5 bilhões. Foi disparada a operação de crédito que mais cresceu. Enquanto isso, a carteira de empresas (PJ) caiu 17,9% — analisa Salaverry.
O lado bom, segundo o analista de mercado, é que Despesas com Provisão para Operações de Crédito vêm caindo no ano (-13,7%). Para ele, mostra que as medidas de cuidado com a carteira de crédito têm surtido efeito.
Só que os investidores, aquelas que o governo quer que comprem suas ações por um bom preço, olham muito pouco o passado. O mercado financeiro está sempre projetando o futuro para saber se os papéis adquiridos agora terão mais valorização para serem vendidos no futuro, rendendo lucro. Tem aquela frase básica: "Rendimento passado não é garantia de rentabilidade futura". Então, o balanço divulgado agora não é garantia de preços altos em dezembro.
— Tudo vai depender de como a administração do banco vai sinalizar aos investidores de onde virá o crescimento dos resultados. Por hora, os números mostram um banco que foi muito cuidadoso restringindo crédito para empresas, melhorando o perfil desta carteira, ao mesmo tempo que liberou bastante para o consignado. Como farão para um cenário de melhora da economia a partir de 2018 é que será o fundamental saber. O balanço de hoje mostra que o banco fez um bom trabalho evitando créditos ruins para pessoa jurídica, o que ajudará a não apresentar inadimplência futura. Só que não é suficiente para garantir crescimento das operações, que dependerá de quais operações serão realizadas, como será o nível de perdas da carteira atual — o que não parece preocupar demais, como ficará o controle de despesas e as receitas com serviços, que são tarifas, seguros e gestão de recursos.
E 2018 tem eleições no Rio Grande do Sul, lembra Wagner Salaverry. O banco seguirá sendo controlado pelo Estado e não se sabe como será o perfil da futura administração, caso mude.