A lucidez e o disparate jogaram carreira nesta semana, mostrando o claro-escuro do dia a dia.
No Vaticano, em defesa da vida e do belo que é viver em harmonia, o Sínodo da Amazônia nos fez ver um novo pecado, mais devastador que os demais – o pecado ecológico. “O desrespeito à natureza afronta a Deus e agride a Criação”, frisou o papa Francisco, pedindo a urgente “conversão ecológica” de todos nós para evitar a morte do planeta.
Em Brasília, o deputado Eduardo Bolsonaro sugeriu “a volta do Ato-5”, imposto pela ditadura em 1968 e que levou o Brasil à perversão do ódio. Aboliu-se a liberdade de pensar e criar. Desconfiança, perseguição, tortura e morte viraram “normalidade”. Até, a vida em família era vigiada.
Eduardo Bolsonaro não é um deputado a mais. É filho do presidente da República, que quis nomeá-lo embaixador nos Estados Unidos, onde o rapaz fritou ‘hamburgers’ na rua, sua grande credencial nesse país. Não importa que o filho se desculpasse “pelo erro”, ao perceber a unânime reação ao horror que propôs.
Valem o propósito e a intenção inconsciente. Ou, como disse o pai-presidente, “foi um sonho” de um maior de idade. Nem sequer sonho infantil, mas algo no horizonte de um adulto.
Podia ter visto a ideia do filho como “pesadelo”, não como “sonho”. Pesadelo é o que se sofre no devaneio noturno. Sonho é o que se pretende ou se espera, seja a mega-sena ou a pessoa amada.
Mas, como ver de outra forma o que disse o filho, se o próprio pai tem ideias (ou sonhos) de calibre similar, que levam à ruptura?
Após se imiscuir em assunto interno da Argentina e apoiar a reeleição do conservador Maurício Macri, agora Bolsonaro se nega a felicitar o candidato eleito, Alberto Fernández, por considerá-lo “um esquerdista”. Despreza o país com o qual temos rios comuns, 1.300 quilômetros de fronteiras, intenso turismo mútuo e é nosso maior parceiro nas Américas. Diz ainda que poderá propor a retirada da Argentina do Mercosul. E se a esquerda seguir no poder no Uruguai, também este país deve sair…
Restrito ao Paraguai, o esquálido Mercosul viraria ninho de contrabandistas e marcas falsificadas!
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Não só no Vaticano, mas também aqui no Rio Grande a lucidez se sobrepôs ao disparate. O Tribunal de Justiça mandou o governador suspender “a urgência” de 30 dias para o Legislativo votar as 480 mudanças propostas ao Código do Meio Ambiente.
Minucioso, o desembargador Francisco Moesch (relator da ação iniciada por deputados de vários partidos) lembrou o conflito com a Constituição Federal e que diferentes setores da sociedade alertam para o perigo das alterações. Necessidades concretas de mudar (e não alegações de direitos ou fatos não comprovados) devem nortear o debate, que – assim – não pode ser às pressas.
Em novo pecado, o governador anunciou uma artimanha legislativa para votar em “urgência”.