Por mais improvável que pareça, um homem indicou Adolf Hitler ao Prêmio Nobel da Paz em 1939. Foi um membro do parlamento sueco, chamado E. G. C. Brandt, que levantou o nome do arquiteto do nazismo por sarcasmo: seu objetivo era protestar contra as indicações do nome do então primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain ao mesmo prêmio. Estadista que não soube dar uma resposta à altura da ameaça de Hitler, Chamberlain renunciaria em 1940, quando Winston Churchill assumiu o comando do Reino Unido.
Mesmo irônica, a indicação de Hitler ao Nobel acabou pegando mal, e Brandt retirou-a em seguida, por meio de uma carta. Mas não foi o único vilão da história a ser cogitado para o prêmio. Benito Mussolini recebeu duas indicações em 1935 e Josef Stalin foi citado em 1945 e em 1948. Nenhum deles ganhou, claro.
Hitler, de sua parte, tinha um problema com o Nobel. Depois que o jornalista e pacifista Carl von Ossietzky foi revelado o vencedor do prêmio da paz de 1935, em meio a uma campanha internacional para libertá-lo da prisão, o ditador proibiu que alemães recebessem qualquer Nobel. Por isso, três cientistas laureados em 1938 e 1939 nas áreas de química e medicina acabaram levando o diploma e a medalha, mas não a quantia em dinheiro. Já Ossietzky, que não pôde deixar a Alemanha para receber a distinção, adoeceu seriamente e morreu em 1938.
É preciso lembrar que ser indicado ao Nobel da Paz não significa uma chancela do comitê oficial do prêmio. Muitas personalidades e instituições ao redor do mundo podem fazer sugestões à vontade, e o fato de esses nomes figurarem na lista não quer dizer que passaram por qualquer crivo da organização. A nominata de indicados a cada prêmio só é revelada após um embargo de 50 anos.
Uma curiosidade é que os nomes mais buscados na base de dados no site do Nobel da Paz são os de Hitler, Stalin e Gandhi. O ícone pacifista Mahatma Gandhi foi indicado em diferentes anos, mas não ganhou, uma lacuna na galeria da instituição. Como consolo, o prêmio de 1948, ano de sua morte, não foi concedido a ninguém.
Esses episódios todos são periféricos na bonita história do Nobel da Paz, que começou em 1901. Em um tempo que precisa tanto de entendimento como o nosso, as atenções se voltam ao vencedor deste ano, que será conhecido no dia 9 de outubro.