Provocador, politicamente incorreto e divertidamente mal-humorado, Ricky Gervais é uma figura singular no showbusiness. Bastaria a criação de The Office para garantir sua entrada no firmamento das estrelas, caso esse cético acreditasse nisso. Na versão original da série da BBC (2001-2003), Gervais é um chefe escroto de um escritório que faz de tudo para se safar sem precisar trabalhar muito, mesmo que para isso tenha que prejudicar os outros. No remake americano (2005-2013), o papel ganha contornos mais sutis com Steve Carell, que vive um chefe impertinente e sem tato, mas que no fundo quer ser amado pelos subordinados. Na dúvida, assista às duas versões.
Gervais também pode ser visto na série After Life, estreia deste ano da Netflix que dificilmente seria considerada uma comédia – mais preciso seria chamar de drama com momentos cômicos. São apenas seis episódios de cerca de meia hora cada sobre Tony (Gervais), repórter de um jornal comunitário que acaba de perder a esposa em decorrência de um câncer e não vê mais motivos para continuar vivendo. Para piorar, considera o próprio trabalho irrelevante e sofre toda vez que visita o pai com Alzheimer em um asilo. É novamente o divertido mau humor que sustenta o interesse da série. Será que o personagem vai mudar de ponto de vista até o final?
Gervais não é um humorista para qualquer gosto. Alguns o acharão sem graça; outros, apenas entediante. Mas se você se enquadrar no grupo dos admiradores, recomendo o show de stand-up Humanity (2018), disponível na plataforma de streaming. Stand-up também não é para qualquer espectador, nem para qualquer humorista. É muito fácil se perder em piadas grosseiras ou em platitudes. Afinal, você tem de abrir a boca e falar alguma coisa interessante e nova, o que é muito difícil, convenhamos.
Se eu disser que Gervais faz piadas politicamente incorretas, talvez você descarte Humanity de antemão. Mas em um momento do show o humorista defende que piada depende do contexto. Conta uma pegadinha que preparou no enterro de sua mãe. Com todas as suas provocações, o ateu Gervais nos oferece aquilo que a religião promete: uma estratégia para lidar com a morte. De preferência, rindo da nossa própria desgraça.