Às vezes, desconfio quando alguém fala em nome das pessoas. Por exemplo, "as pessoas pensam isso ou aquilo". É uma expressão abstrata demais e muitas vezes serve apenas para reforçar as convicções de quem a emprega, como se o seu desejo individual fosse universal. Temos visto muito esse tipo de recurso nos debates sobre a turbulenta transição entre os governos Dilma e Temer que opõem certa "esquerda" a certa "direita". Valho-me das aspas porque há muitas esquerdas e muitas direitas, mas, acima de tudo, porque essa oposição entre defensores de Dilma e os de Temer parece restrita a uma fatia singular da população.
Para não sair por aí falando em nome das "pessoas", vamos aos números. Segundo o Datafolha, os que aprovavam a gestão Dilma em abril último eram apenas 13% dos entrevistados; os que consideravam o governo Temer ótimo ou bom, em dezembro, somavam 10%. Dilma teve uma mísera nota média 3,5, e Temer, 3,6. Ninguém passa de ano assim.
É provável que os poucos simpatizantes de um e de outro não representem os mesmos segmentos da população, mas arriscaria dizer que muitos dos que consideram ambos regulares, ruins ou péssimos dizem respeito a uma parcela importante: aqueles que aprenderam a ser descrentes das representações políticas, independentemente de seu verniz ideológico. Meu palpite é que a maior parte da sociedade não está tão preocupada com as categorias de esquerda e direita. Está interessada em um emprego digno, com retorno dos impostos na forma de bons serviços públicos e qualidade de vida. Isso não acontece porque "as pessoas" são ignorantes e pensam apenas em seu próprio umbigo. Muito pelo contrário, elas são inteligentes e sabem que, quando um país vai bem, a população também vai bem.
Pesquisa coordenada, entre outros, pelo professor da USP Pablo Ortellado com manifestantes anti-Dilma em agosto de 2015 revelou o seguinte: 97% concordavam total ou parcialmente que os serviços de saúde devem ser universais e gratuitos e 98% acreditavam que a educação deve ser universal e gratuita. O mesmo levantamento revelou que 83% julgavam os impostos excessivos. A má qualidade dos serviços públicos se deve à corrupção para 89% dos entrevistados e à má gestão para 94% deles.
Você pode fazer uma leitura dos dados mais à esquerda ou mais à direita. Na verdade, eles retratam os "nem nem": nem Dilma, nem Temer. Está cada vez mais difícil convencer a população das boas intenções do atual mercado político brasileiro. Afinal, de que serve uma ideologia quando a barriga está vazia?
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Com que roupa
Os números confirmam o que já se imaginava. As roupas brancas são as mais procuradas pelos clientes para a virada de Ano-Novo, segundo levantamento do Sindilojas Porto Alegre – 67,5% têm essa preferência. As outras cores requisitadas são amarelo (50%), verde (12,5%), azul (5%) e laranja e vermelho (2,5% cada).
Verão sem ar
O sistema de refrigeração do Aeroporto Salgado Filho está em manutenção e opera parcialmente.A recuperação começou em 14 de dezembro e deve ficar pronta em fevereiro, segundo a assessoria da Infraero.
Boa ação
Funcionários da CEEE arrecadaram 296,3 mil tampinhas de garrafa neste ano, que foram doadas para entidades que vendem o material para financiar ações sociais. As tampinhas completaram o equivalente a 740 bombonas de água, o que rendeu R$ 740 para as instituições.
TRIBUNA - Aqui, o leitor tem a palavra final
Sobre nota de Tulio Milman a respeito de descaso com a praça de Atlântida, em Xangri-lá, no Litoral Norte gaúcho (26/12):
Na guarita 92, uma das principais – ou mesmo a principal – de Xangri-lá, a crise coloca em risco os banhistas. A estrutura montada para os salva-vidas está capenga, quase caindo. Diante disso, os servidores precisam ficar em um barraco montado – e localizado quase fora da faixa de areia – para armazenar guarda-sóis que são alugados aos banhistas.Um pouco mais de capricho por parte de prefeitura, Estado e demais responsáveis não faria mal a ninguém. Rodrigo Martini
Sobre nota de Tulio Milman a respeito de parentes de vereadores nomeados como CCs em Porto Alegre (26/12):
Sugiro dar nome dos senhores vereadores de PoA que empregam parentes. Porque assim você coloca todos em igual.
Anete Dornelles Amaral
Sobre foto de placa em posto de gasolina com o aviso: "Antes de deixar o posto, verifique se toda a família está no carro" (27/12):
Os relatos, quase selvagens, de mulheres argentinas esquecidas em postos de gasolina gaúchos são um tema perfeito tanto para um destes magníficos filmes argentinos, tipo Relatos selvagens, como para um bom tango! No verão passado, foram três estupendos casos de mujeres olvidadas! Este verão promete um número maior (de esquecimentos), já que tivemos, em dezembro, o primeiro relato. (...) Vivo lendo artigos de psiquiatras na imprensa, e nenhum deles abordando estes relatos emblemáticos, de "olvidos". Dr. Freud talvez possa nos dar uma pista. Duas associações serão organizadas pelos hermanos: Argentinos Distraídos & Argentinas Olvidadas. (...)
Paulo Sérgio Arisi
Sobre a placa no posto de combustível e sobre nota a respeito do abandono da Igreja Positivista, no Rio, noticiado pelo New York Times (27/12):
Quanto ao aviso (no posto de combustível), teria sido mais interessante se a segunda parte do cartaz estivesse escrita em espanhol, e não num péssimo portunhol.Quanto ao item Memória, é triste ter que vir um estrangeiro nos dizer que devemos preservar nossa história.
Domingos Kulczynski