Pouco tempo atrás, uma corrente provocou as pessoas a postar nas redes sociais suas listas de escritores preferidos de todos os tempos. Aprendi muito lendo estes relatos, identifiquei-me com alguns nomes e descobri outros tantos. Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade, compreensivelmente, estavam entre os mais citados. É fato: algumas das referências que nos levam a tomar gosto pela leitura são aquelas que estudamos na infância e na juventude, uma mostra da importância da escola na formação dos leitores.
O primeiro livro que recordo de ter gostado de ler, sem contar os infantojuvenis, foi Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, em uma edição da Ática. Não lembro se fui bem na prova, mas o estímulo foi fundamental. Uma colega se encantou com O tempo e o vento, de Erico Verissimo, a ponto de ler mais volumes do que eram requeridos pela professora – o que era um pouco exótico aos olhos dos colegas. Guardadas as diferenças de gênero literário, os jovens de hoje que devoraram os sete volumes de Harry Potter não ficam para trás no gosto pelas letras.
Na minha lista de leituras de maturidade, jamais poderia deixar de fora os autores de não ficção, que para mim foram tão importantes quanto os romancistas, contistas, poetas e dramaturgos. Como não citar Freud, esse cara que nos deu uma nova maneira de interpretar o ser humano? Quem acha Freud difícil é porque nunca o leu. Como não pensar em brasileiros como Eduardo Viveiros de Castro e Augusto Boal, que renovaram suas áreas de estudo (antropologia e teatro, respectivamente) e ganharam repercussão internacional? No meu tempo de lazer, a receita da felicidade é 50% de ficção e 50% de ensaios.
Isso sem falar dos economistas, esses autores por vezes relegados injustamente a segundo plano com a justificativa de que não entendemos seus jargões. No livro Economia: Modo de usar, o professor da Universidade de Cambridge Ha-Joon Chang argumenta, com bom humor, que esse é um assunto importante demais para ser deixado exclusivamente aos cuidados dos especialistas. O sucesso de O capital no século XXI, de Thomas Piketty, outro livro escrito para ser lido pelo público em geral, comprova que há uma sede de conhecimento pela forma como funciona o mundo. Há um tempo para se deixar levar pela ficção e há um tempo para fincar o pé na realidade.