Contemplando esse debate dos fashionistas sobre o tal modelo de tênis de cano baixo de uma famosa grife que agora voltou com tudo, fico pensando que, neste aspecto, ainda vivemos como se estivéssemos no colégio. Queremos ser iguais aos outros. Se no tempo da escola havia um único padrão de vestimenta e costume entre todas as crianças, no mundo adulto a cobrança é mais sutil, mas ainda existe, assim como a pena aplicada a quem não se enquadra nos códigos decretados pelos Kim Jong-uns da vida.
Mas vamos tentar pensar, por um instante, como se estivéssemos chegando na Terra neste momento: por que essa coisa de querer usar o que todos estão usando? Por que amanhã o tênis de cano baixo já será uma coisa ultrapassada e todos doarão seus pares aos pobres? Lembrei de uma história – que só pode ter sido inventada – de um sujeito que teria pedido para um mendigo um abrigo esportivo dos anos 1970 que havia voltado à moda. Tudo que espero é que o sujeito tenha oferecido, em troca, um abrigo old-fashioned para o mendigo não passar frio.
Somos assim: estamos sempre em busca da nossa identidade, das mais diferentes formas. Alguns se angustiam enquanto não a encontram; outros preferem aproveitar o processo. Já fui do primeiro tipo, mas, depois de um tempo de reflexão, passei para o segundo. No fundo, a identidade não é algo que você simplesmente encontra e depois fica congelada para sempre. É uma construção contínua. O melhor que se tem a fazer, portanto, é relaxar.
Costumamos nos espelhar em códigos de vestimentas para supostamente incorporar valores como fama e dinheiro. Mas é tudo ilusório. Se quiser mudar o mundo, você pode começar tentando melhorar o bairro. No fundo, o que nos faz realmente felizes são as pequenas coisas do dia a dia: passar um fim de semana com quem você ama, ter um trabalho legal e inventar uma viagem maluca de vez em quando. Cada um à sua maneira. Parafraseando aquela expressão em inglês que fica esquisita em português: nem sempre precisamos querer estar nos sapatos dos outros.