Alguns amigos me olharam de um jeito estranho quando declarei admiração pelo disco Yeezus (2013), do Kanye West. Não entendi se era porque eles achavam o disco ruim ou porque duvidavam que eu pudesse ter gostado. Mas a surpresa foi maior quando admiti que sou fã de Kim Kashkashian. Disse Kashkashian, e não Kardashian.

Quando a violista americana Kim Kashkashian ganhou um Grammy de instrumental clássico solo pelo disco Kurtág/Ligeti, também de 2013, muitos desavisados nas redes sociais a confundiram com Kim Kardashian, a mulher de Kanye West e estrela de reality show. É divertido comparar as duas porque não poderiam ser mais diferentes entre si - exceto, claro, pela ascendência armênia. Kashkashian é uma prestigiada musicista de 63 anos que se notabilizou, no meio da música clássica, por difundir a obra de compositores modernos - um nicho dentro do nicho. Mas sua discografia, que vem lá dos anos 1980, é vasta e inclui muito Mozart. Já Kardashian, 35 anos, é uma estrela mundial da TV e uma das celebridades mais badaladas do momento - a notícia mais recente a seu respeito, desta segunda-feira, é que ela postou um nude e quebrou a internet ("de novo", anunciou um site).

É meio tragicômico que Kashkashian tenha vivido, nos últimos anos, à sombra da fama de sua quase xará: também o instrumento que escolheu como seu, a viola, tem estado injustamente atrás do prestígio do irmão mais famoso, o violino. Não é à toa que ela se dedicou ao repertório mais recente: no século 20, muitos compositores voltaram suas atenções à viola, renovando significativamente a oferta de partituras. Kashkashian sabe o que faz: sua gravação do Concerto para Viola de Bartók está no topo de uma lista de obras para o instrumento da revista Gramophone.

A violista declarou, em uma entrevista, que nunca assistiu a um reality show na vida. Modesta, acredita que teria algo a aprender com Kardashian: "Poderia receber alguma dica de moda dela, suponho".

Assista a Kim Kashkashian tocando Lachrymae, de Benjamin Britten: