Muitos brasileiros estão surpresos com o Foro São Paulo e, como quem acorda de um sono de três décadas, perguntam como uma organização com tamanho peso e influência no Brasil e na América Latina ficou fora dos seus radares por tanto tempo. São pessoas que durante toda a vida leram jornais e escutaram rádio atrás de notícias de política e economia. Enquadram-se no que podemos chamar de consumidores de informação. Por anos e anos se acomodaram frente à TV para assistir ao Jornal Nacional e aos domingos acompanharam a mais tradicional revista eletrônica da televisão brasileira, o Fantástico. Em suma, não são – ou tentaram não ser – pessoas alheias ao que se passa em seu país e no mundo.
O espanto desses brasileiros coloca os veículos do jornalismo profissional sob a necessidade de promover uma reflexão, com disposição para a autocrítica. Quando, em 1990, Lula e o patrono da ditadura cubana, Fidel Castro, assentaram as bases do Foro de São Paulo, os grandes meios de comunicação nada informaram. Cinco anos transcorreriam até que o assunto chegasse, sem alarde, a um grande jornal – mas seguiu ignorado pelas demais redações do mainstream, onde um colunista, Olavo de Carvalho, deu visibilidade, em tom de denúncia, às movimentações dos regimes de esquerda da região para tingir de vermelho a América Latina. Olavo, um polemista que acabaria se autoexilando nos Estados Unidos pelo resto da vida, despertou reações inflamadas. Na mais branda delas, foi descrito como um louco delirante pelo largo âmbito de simpatizantes da esquerda. Fosse hoje, certamente estaria no inquérito-do-fim-do-mundo conduzido por Moraes sob a acusação de ter disseminado notícia falsa. Ou “desordem informacional”, a nova categoria que o verdugo da Constituição brasileira criou para prender qualquer um a qualquer pretexto.
Agora, todos sabem. O Foro de São Paulo existe, está robusto e realizou, para orgulho de Lula, seu 26º encontro em Brasília, dias atrás. Se você se escandalizou com afirmações do presidente do Brasil de que democracia é um conceito relativo, eu não. É no que ele e os próceres do Foro de São Paulo sempre acreditaram, por baixo de declarações formais e diversionistas. Deixo-os com um trecho do discurso de Nicolás Maduro, o tirano da Venezuela que tem ganhado sucessivos afagos, e desagravos, do presidente brasileiro. A fala de Maduro, que se acumplicia com a Suprema Corte para prender ou tornar inelegíveis todos os opositores, ocorreu na celebração dos 30 anos do Foro de São Paulo em Caracas, em novembro de 2022. Ele fez elogios ao ditador Daniel Ortega, que também se reelegeu na Nicarágua prendendo e expatriando adversários, e saudou todos os países que, acredita, dão vida ao sonho da “Pátria Grande” na América Latina.
– Que vocês trazem do México, do Chile, Cuba, Equador, Argentina, Guatemala, do Brasil... Com nossos irmãos da China, da Rússia, da Coreia, da Nicarágua... Que trazem força da nova onda que se levantou!
E, por fim, Maduro avisou: “Todos os processos estão se concatenando!”.