A partir de agora, você vai conhecer a história mais emocionante desta Copa do Mundo, que envolve um mexicano que perdeu toda a sua família menos de dois meses antes do Mundial. Para manter o sonho planejado com a mulher e os filhos, ele decidiu viajar para a Rússia. Por aqui, ele está vendo os jogos usando camisas para homenagear os familiares, juntamente com as credenciais de identificação deles. Neste domingo, eu tive oportunidade de conversar com Gilberto Martínez, 41 anos, que está sendo uma verdadeira fortaleza para se manter de pé, e concretizar o que foi preparado durante meses. Mas antes do bate-papo, é preciso explicar o que exatamente aconteceu.
A história de amor começou em 2001. O advogado Gilberto, que mora no México, conheceu a argentina Verónica Raschiotto, então com 25 anos. Ela se mudou para a capital mexicana por causa do trabalho na área imobiliária. Em 2004, os dois se casaram, e tiveram dois filhos, Diego e Mía. Uma família unida, feliz e que alimentava também uma paixão pelo futebol. Tanto é que nos últimos meses planejaram juntos a viagem para assistir à Copa do Mundo na Rússia. Na agenda dos jogos, além de ver o México, adquiriu ingressos para Brasil x Costa Rica, um pedido especial de Diego, fã de Neymar. Com tudo pronto, passagens compradas, hotéis reservados e entradas garantidas, era só esperar chegar o momento da grande viagem. Só que antes disso, aconteceu uma tragédia.
No dia 28 de abril, Verónica, e os filhos Diego, oito anos, e Mía, seis anos, sofreram um acidente de carro em Delray Beach, na Flórida. O veículo em que eles estavam, foi atingido por uma caminhonete. Todos morreram. O motivo da viagem era uma visita ao irmão de Verónica, que também faleceu na colisão.
De uma hora para outra, Gilberto perdeu toda a sua família. Sofreu muito, mas não sentiu ódio do outro motorista, não buscou culpados. A sua primeira preocupação foi saber se os seus familiares tiveram morte instantânea, sem sofrimento. Foi o seu único alívio. Depois disso, decidiu manter o sonho da família. Exatamente como estava planejado. Os mesmos hotéis, os mesmos jogos. Exatamente o mesmo roteiro, inclusive coma viagem de trem entre Moscou e São Petersburgo, como pediu sua mulher. Chamou dois amigos, um mexicano e um argentino, para acompanhá-lo em uma homenagem linda.
De Rostov, onde no sábado acompanhou México 2 a 1 na Coreia do Sul, Gilberto me atendeu. Falou sobre a realização do sonho, e fez questão de mandar pelo WhatsApp as fotos da viagem.
Como foi a decisão de vir para a Rússia e fazer essa homenagem para a sua família?
A verdade é que ajudou muito uma conversa que tive com o goleiro da seleção do México, Guillermo Ochoa, que meu deu as condolências, palavras de apoio pelo que aconteceu com a minha família. E no final ele me disse que meu filho gostaria de estar aqui. Eu creio que foi o que precisava para decidir estar aqui e viver isto. E também esta é a única coisa que temos pendente como família. Então, tenho que viver isto, sofrer, chorar e desfrutar.
E como é este roteiro que foi planejado com a família?
Chegamos no dia 15 em Moscou. Acompanhei Argentina x Islândia porque meu filho queria ver Messi. Depois vi México x Alemanha. Fomos para São Petersburgo assistir a Brasil x Costa Rica, o Diego também queria ver o Neymar. E daí viajamos para Rostov, onde estou agora. Aqui teve México x Coreia do Sul. Depois, a próxima parada é Ekaterimburgo para México x Suécia, e nos dia 30 voltamos para o México. Está sendo lindo, mas muito duro também.
E esta grande campanha do México?
Está jogando muito bem, jogando de maneira ofensiva. Dominou os dois jogos. Contra a Alemanha foi uma partida perfeita. Esperamos que na última partida jogue igual. Estou seguro que vai ser o maior Mundial da história do México.
E como foi ver o Brasil?
Foi um prazer ver tantos jogadores de altíssima qualidade, como Neymar, Coutinho, Paulinho e Marcelo. Fiquei muito feliz que Neymar e Coutinho fizeram os gols porque meu filho sempre viu Neymar, e também porque ele era torcedor do Barcelona. Sempre acompanhava Neymar e Messi, e se emocionou muito quando o Coutinho chegou.
Agora falta pouco para completar a viagem e concretizar o que foi planejado pela família. O objetivo está alcançado?
Sim, esse é o propósito. Terminar o que ficou pendente. É por eles. Para honrar eles. Estou aqui com grandes amigos. Há que viver. E terminar o que ficou pendente.