Alimento orgulho quase infantil por conhecer pessoalmente, considerar-me amigo e trocar mensagens de WhatsApp com Simon Sebag Montefiore. Particularmente, considero-o o maior historiador vivo – ou pelo menos o que melhor escreve. Ok, posso estar exagerando, até porque sou dado a exageros, mas creio que qualquer um que tenha lido Os Romanov, Stalin: a corte do Czar Vermelho, Catarina, a Grande & Potemkin e Jerusalém: a biografia, ou o visto na TV apresentando séries históricas, haverá de concordar comigo. Junto com o orgulho, também nutro por Simon uma inveja corrosiva, avassaladora, quase doentia. Afinal, ele não apenas é mil vezes melhor do que eu nas coisas afins que fazemos – ou seja, livros de história e séries de TV –, como ainda por cima é mais moço (bom, a essa altura parece que qualquer um é). E o pior: também começou a carreira como reles jornalista. A meu favor, posso alegar apenas que não nasci milionário, não estudei em Harvard e não sou íntimo da família real britânica.
Junto com Yuval Noah Harari, o autor de Sapiens, Simon tem escrito os mais lúcidos (e, justamente por isso, os mais amedrontadores) artigos sobre a invasão russa da Ucrânia – essa que juntou do mesmo lado do espectro os comunistas e Donald Trump, Bolsonaro e a China, o site Brasil 247 e a Foz News, o ditador de Belarus e o pastor Silas Malafaia, todos, ora vejam, torcendo por Putin. A diferença entre Simon e Harari é que desde 2014 o primeiro (que aliás, estava em Kiev durante os levantes populares daquele ano) vem alertando, prevenindo e prevendo a invasão da Ucrânia pela Rússia. Afinal, basta mergulhar no seu espantoso épico, Os Romanov, sobre a família imperial russa – livro que já foi chamado de uma mistura de Game of Thrones com Guerra e Paz, no qual um fôlego narrativo a Tolstói adquire o ritmo de um rock do Led Zeppelin –, para saber que o império russo nasceu na Ucrânia, mais especificamente em Kiev.
Justamente por isso, os artigos de Simon não se restringem aos dramáticos e assombrosos acontecimentos que se iniciaram na semana passada e não têm data para terminar. Eles remontam a conflitos milenares que praticamente desde a aurora da civilização vêm ensanguentando a Ucrânia – palavra que, aliás, significa “fronteira” e região que já foi chamada de “os campos irrigados de sangue da Europa”. Sabe-se que os livros de Simon Sebag Montefiore foram todos lidos por Putin. Pena que o autocrata russo não pareça ter aprendido nada com eles.
Em 1897, Bismarck disse que os Balcãs não valiam um só osso de um único soldado alemão. Uma década e meia depois, a I Guerra estourou nos Balcãs. Quantos ossos valerá a defesa de Kiev? The answer, my friend, is blowin in the wind. Só esperemos que não seja vento radioativo, como aqueles que já sopraram em Chernobyl.