Então sem mais delongas, de turbante na cabeça e bola de cristal na mesa, vamos a elas. Prevejo um ano turbulento, com eleições polarizadas num país dividido, inquietação nos quartéis, artistas revoltosos, muita gente celebrando a Independência e o Brasil disputando a Copa. Prevejo ainda uma enxurrada de fake news, seguida pela vitória dum presidente odiado por muitos. E evidentemente, prevejo um terremoto.
Um terremoto? Sim, e digo mais: um terremoto real, não metafórico. Mas deixo isso para o fim, embora tudo indique que será no começo.
Com relação às eleições, afirmo que um ex-presidente popular e populista enfrentará o candidato conservador e retrógrado. Fake news vão abalar o pleito – em especial após serem confirmadas por peritos, apesar de serem mesmo falsas. O turbilhão se refletirá nos quartéis e militares sairão às ruas para tentar um golpe. Ele será abortado com sangue. Já a Copa será disputadíssima, mas o Brasil vai sair campeão – graças, é claro, à escandalosa ajuda dos juízes. Um escritor famoso vai se irritar com a fortuna paga aos boleiros e detonará a seleção. Artistas farão um grande festival e o aniversário da Independência emocionará os patriotas.
Bom, é (ou foi) assim: o populista Nilo Peçanha, que fora o primeiro (e até hoje único) negro a presidir o Brasil, enfrentou o conservador Arthur Bernardes nas eleições de 1922. Perdeu, embora Bernardes fosse odiado pelo povo. Indignados com cartas (falsas) em que Bernardes atacava os militares, 18 deles tentaram um golpe. Eram os 18 do Forte. Quatorze foram mortos. O Brasil ganhou a Copa Sul-Americana só porque os juízes roubaram a seu favor e o escritor Lima Barreto se indignou com o prêmio pago aos jogadores. A Semana de Arte Moderna mudou a história da cultura no Brasil, mas não chegou aos pés da Exposição Internacional do Centenário da Independência, que estremeceu o Rio de Janeiro.
Ah, por falar nisso, terremoto com mais de cinco graus na escala Richter estremeceu São Paulo em 27 de janeiro de 1922. Entra ano, sai ano, é a mesma conversa mole pois povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la. Estou só esperando o terremoto.