Entrei na UFRGS na aurora de 1976 — mas parece que foi trasanteontem. E foi mesmo, tanta água já passou pelo meu moinho. Após anos na mesmice insípida do colégio, imerso em teoremas, logaritmos, protozoários e servos da gleba, prestei vestibular e passei! Raspando, mas passei (59º lugar entre 65 aprovados). Então, curti férias numa praia deserta (nos tempos em que isso existia) e voltei pronto para minha nova vida: a vida universitária. Foi como embarcar no Titanic.
Estávamos no regime militar: a ditadura que certos pulhas dizem que foi "dita branda" e incertos canalhas querem de volta. Quem entrava na faculdade, tinha, antes de ingressar no curso para o qual havia sido aprovado, que fazer o famigerado "curso básico". Oficialmente, o objetivo daquilo era "dar aos estudantes formação geral antes da especialização profissional". As matérias, se mal me lembro, eram Redação, Normas Técnicas e a inolvidável Estudo de Problemas Brasileiros (EPB), irmã mais velha de OSPB e filha de Moral e Cívica. Tive saudades dos servos da gleba e dos protozoários.
O que começou mal, não melhorou a seguir. Embora no primeiro dia na Faculdade de Comunicação, eu tenha visto, pichada no diretório acadêmico, a memorável frase: "Se Deus existe é problema dele", não lembro de ter aprendido lá nada que viesse a me servir na vida profissional. E como logo fui trabalhar em Zero Hora, daí mesmo que não dei a menor bola para o curso. Quando, quatro anos depois, recebi uma carta dizendo que eu seria "jubilado", achei que era a UFRGS enfim rejubilando-se com meu talento. Mas não. Era uma ameaça: ou eu me formava naquele semestre ou bau-baus. Como, no Brasil, quem tem curso superior não vai para vala, ops, cela comum, decidi me formar. Vai saber...
Sendo assim, nunca tive maiores ligações com a UFRGS. Até descobrir a biblioteca central e o bar da Arquitetura; assistir Art Blakey e Wilson Pickett e Fronteiras do Pensamento no Salão de Atos da Reitoria, curtir filmes na Sala Redenção, ver ótimas exposições no museu da UFRGS. Tardia, porém sinceramente, acabei me afeiçoando à universidade. O nome dela até aparece no cabeçalho do verbete que alguém fez sobre mim na Wikipedia.
Portanto, não foi só como cidadão atuante, mas como grato ex-aluno que acompanhei a nomeação do novo reitor da instituição graças a qual poderei, em alguma eventualidade, desfrutar de cela especial. Saber que Carlos Bulhões (cujo nome, com todo o despeito, já não ajuda) foi apoiado por um deputado que, enquanto jornalista, sempre foi motivo de piada entre os profissionais da (minha!) área, configura um tão constrangedor fra-cas-so que me vi empurrado de volta aos tempos em que a UFRGS me deixava com saudades dos protozoários.