Os árbitros brasileiros nunca viveram algo tão parecido com um processo de profissionalização quanto o que estão experimentando. O momento é difícil. A pandemia fragiliza os mais diferentes setores. É por isso que digo que a CBF está dando uma aula de sensibilidade no tratamento com a arbitragem ao criar algo que podemos definir como um modelo semiprofissional na gestão do apito.
É lógico que ainda estamos muito longe de poder falar em profissionalização da arbitragem e deixar esse "semi" de lado. Talvez sejam necessárias algumas gerações para que o assunto possa avançar de maneira efetiva. Esse é o pesamento dos próprios árbitros, mas a situação evoluiu de maneira indireta nos últimos meses.
Em abril, a CBF anunciou a antecipação de taxas para auxiliar aos árbitros por conta da parada do futebol. A quantia referente ao maior valor recebido em um jogo único de 2019 seria paga a cada um deles. A ideia inicial era de que o dinheiro adiantado fosse compensado na retomada dos jogos. Isso se repetiu em maio e, novamente, em junho.
O fato novo que torna a arbitragem semiprofissional (ou que me faz ter a pretensão de chamar assim) é que os valores repassados até agora não precisarão mais ser devolvidos pelos árbitros.
— A gente recebeu uma notícia extremamente positiva do presidente (da CBF) Rogério Caboclo de que isso não é mais uma antecipação. Isso é um auxílio que foi dado aos árbitros. Ou seja, a gente não tem mais a necessidade da devolução desses valores quando o Campeonato Brasileiro recomeçar ali na frente — celebrou o gaúcho Anderson Daronco em entrevista à Rádio Gaúcha.
Esse é o fato: taxas recebidas em abril, maio e junho não precisam mais ser reembolsadas. Isso não quer dizer que a CBF esteja fazendo caridade aos árbitros. Existe a contrapartida do quadro nacional desde o começo. Muito antes de saber que as taxas seriam definitivas, a arbitragem estava empenhada em manter as atividades.
O trabalho seguiu dentro do possível. Treinos físicos e teóricos continuaram ocorrendo com supervisão online de instrutores da CBF. Logo depois veio a pré-temporada virtual, que também demanda dedicação da arbitragem.
— É um dos argumentos fortes. Tanto que o próprio Leonardo Gaciba (chefe de arbitragem) e o presidente Caboclo também utilizaram isso. Desde o início, a comissão de arbitragem visualizou isso como um momento de extrema dificuldade. Não só a dificuldade financeira, mas da dificuldade do isolamento e da parada forçada. Os árbitros deram essa resposta pela paixão também pela atividade e depois veio esse, digamos, presente da CBF. Vamos ter essa gratidão eterna por essa gestão pela forma e o carinho com que eles estão vendo a arbitragem. Não vendo a arbitragem como um número — completou Daronco.
O fato é que os árbitros sempre treinaram, estudaram e realizaram pré-temporada. Só que também apitavam e ganhavam por isso. Por isso, ressalto e parabenizo a atitude da CBF. A dificuldade não poderia ser maior para os árbitros e a grandeza do gesto também não. Quem sabe esse momento semiprofissional do apito não possa gerar um embrião para algo maior no futuro?