Profissionalização da arbitragem. Volta e meia esse assunto é debatido. Não demora muito e a discussão não evolui. Pouco tempo depois, com a mesma lógica do surgimento repentino, o tema desaparece. Por quê?
A pandemia reabriu o questionamento e não houve avanço de uma ideia sólida que pudesse sustentar a profissionalização da arbitragem no Brasil.
Dia desses assisti à uma entrevista do árbitro alemão Felix Brych e um detalhe chamou atenção. Ao falar sobre o período sem futebol, o juiz comentou sobre as dificuldades enfrentadas na Alemanha. Só que havia uma diferença significativa. Lá, além de receber uma taxa para cada jogo trabalhado, os árbitros também ganham um salário, que supera a casa dos 6 mil euros mensais. Durante a pandemia, dizia Brych, eles não receberam as taxas. Só o salário (só?).
Vale ressaltar que durante a pandemia os árbitros brasileiros receberam antecipação de taxas da CBF.
Esse é o típico exemplo da arbitragem que na Alemanha é algo banal, mas que para o padrão brasileiro não passa de utopia. Digo isso porque não acredito que a arbitragem do país possa ser profissionalizada.
O chefe de arbitragem da CBF, Leonardo Gaciba, concedeu entrevista à Rádio Gaúcha no começo da pandemia e falou sobre o assunto. Trouxe um detalhe que impõe uma dificuldade importante para o avanço da ideia e vai além da discussão sobre quem pagaria a conta ou quem mataria no peito a questão dos direitos trabalhistas.
A questão é que a profissionalização exigiria a exclusividade de função para muitos árbitros que hoje também exercem outras profissões e são bem remunerados por isso. Será que eles aceitariam abrir mão de outras atividades? Uma resposta definitiva dependeria de uma ampla pesquisa com o quadro nacional.
Outra dúvida que fica diz respeito a responsabilidade de cada um em uma proposta de profissionalização. Quanto da solução depende da só CBF e quanto depende de uma organização que tenha iniciativa dos próprios árbitros com a organização de uma liga, por exemplo? São questões de difícil resposta.
Parece que mais uma vez, ao ver o exemplo da arbitragem na Alemanha profissionalizada, a conclusão nos remete à velha utopia brasileira de um assunto que não evolui.