Não é só no Brasil que o VAR causa polêmica. Muda o país, muda o continente e o assunto continua exatamente o mesmo. Acompanhei nos últimos dias o forte debate sobre o uso do árbitro assistente de vídeo nos jogos da Taça da Liga de Portugal. A principal discussão ocorreu por conta de um gol anulado no confronto entre Braga e Sporting, pela semifinal da competição. Antes de qualquer coisa, assista ao vídeo acima e responda a seguinte pergunta: você marcaria falta e anularia o gol neste lance?
Antes de manifestar minha opinião sobre a jogada, gostaria de fazer algumas considerações. Acho importante inserir o contexto em que a decisão da arbitragem está inserida. A partida estava empatada em 1 a 1, que foi o placar final por conta da anulação do gol do Braga. O resultado levou a decisão para os pênaltis e o Sporting garantiu a classificação vencendo por 4 a 3.
Também entendo que seja importante mencionar que há outros dois lances reclamados no jogo. Cada uma das equipes protestou um pênalti não marcado. No lance que favoreceria o Braga, o VAR sequer pediu a revisão. No outro, que seria para o Sporting, o juiz principal chegou a ver a jogada no monitor, mas também não marcou a infração. Não encontrei vídeos que pudessem ilustrar essas jogadas e, por isso, vou desconsiderá-las. Também não vou entrar nos detalhes do gol mal anulado na outra semifinal entre Porto e Benfica.
Sobre a decisão técnica do lance: eu não marcaria a falta. Considero o gol legal por entender que o choque entre os dois jogadores é normal. Ambos saltam visando a bola e não há qualquer tipo de carga acintosa do atleta do Braga no sentido de tentar deslocar ou impedir o adversário de disputar.
Osárbitros precisam apitar sempre como se não houvesse VAR
Independente de concordar ou não com a minha opinião, tenha atenção a três aspectos da jogada. Primeiro, o árbitro Manuel Oliveira estava a 10 metros e de frente para o lance. Tinha totais condições de avaliar a existência ou não de infração. Segundo, o bandeira estava a cinco metros no ângulo oposto. Terceiro, se o árbitro de vídeo Luís Godinho não tivesse solicitado a revisão ninguém reclamaria, pois até o atleta que "sofreu" a falta seguiu no lance. Ele levantou imediatamente e saiu correndo para buscar a jogada.
É o típico exemplo em que o VAR atrapalha a partida. Não quero dizer que sou contra o recurso eletrônico. Sou a favor e defendo a implementação e a evolução do processo. O que gostaria de ressaltar é que o árbitro de vídeo não pode ser usado como bengala ou servir como uma terceirização do apito. Quem está em campo não pode perder a capacidade de interpretar ou se "esconder" atrás do recurso.
O VAR é como um seguro de carro. Eu não vou dirigir como um maluco irresponsável ou sem prestar tanta atenção porque meu carro está protegido. Preciso ter cuidado e dirigir para não usar esse recurso. Em caso de acidente, o seguro estará ali para me salVAR.
Os árbitros precisam apitar sempre como se não houvesse o VAR, que só será usado para salvar o juiz principal. Do contrário, haverá problemas no Brasil, em Portugal ou qualquer outro lugar do mundo.