O Brasil terá um novo árbitro no quadro da Fifa. A oficialização de que catarinense Bráulio da Silva Machado passa a integrar a seleta lista ocorrerá no primeiro dia de 2019. O juiz de 39 anos, que reside na cidade de Tubarão-SC, buscava o espaço no cenário internacional há três temporadas. Em 2016 e 2017, ele chegou a ser aprovado nos testes físicos e teóricos da entidade máxima do futebol. No entanto, nas duas oportunidades, não houve alterações no quadro da Fifa.
O espaço se abriu em 2018, com a saída de Sandro Meira Ricci, que decidiu se aposentar do apito depois da Copa do Mundo da Rússia. Era a tão esperada vaga de Bráulio da Silva Machado, que começou a se confirmar com mais uma aprovação nos testes físicos e teóricos realizados em Lima, no Peru.
Superada essa etapa, Bráulio já recebeu a confirmação por parte da Conmebol para participar da pré-temporada no próximo mês de janeiro, em Luque, no Paraguai. O encontro servirá como preparação para as competições internacionais de 2019, como Libertadores e Sul-Americana.
Nesta semana, conversei com Bráulio da Silva Machado no programa Show dos Esportes. Ele falou sobre a expectativa para a nova fase da carreira, o atual momento da arbitragem brasileira, as reclamações exageradas dos jogadores ao longo do Brasileirão, o uso do VAR (sigla em inglês para árbitro assistente de vídeo) e também revelou como é lidar com os lances difíceis e os erros. Confira abaixo:
Expectativa pelo ingresso no quadro da Fifa
"Essa expectativa vem desde o ano de 2016, quando eu pude fazer o primeiro teste para estar habilitado para estar no quadro internacional. Fiz os testes físicos e teóricos e fui aprovado. Em 2016 e 2017 não tivemos nenhuma baixa, nem técnica nem física. A arbitragem nacional manteve um alto nível. Fica difícil para a comissão modificar algum nome se não tem nenhum tipo de baixa. Agora, em 2018, recebi o convite para fazer um teste em Lima, no Peru. Passei oito dias realizando um treinamento lá com toda comissão internacional da Conmebol. Fiz os testes em nível de Copa do Mundo, que são mais difíceis do que os que a gente realiza normalmente, e fui aprovado novamente. Isso gerou uma nova expectativa, que já vem há três anos. Agora, surgiu um convite da Conmebol para a pré-temporada, que será realizada em Luque, no Paraguai. Serão quatro dias em janeiro para que a gente se prepare para as competições internacionais."
A queda no nível da arbitragem brasileira
"Acredito que a arbitragem manteve um bom nível. Porém, os clubes incorporaram neste ano a competição de pontos corridos desde o início. Para a arbitragem, ficou muito mais difícil. Não teve rodada fácil. Todos os jogos eram muitos complicados. O futebol vem sofrendo essa modificação, principalmente perdendo um pouco na técnica e ganhando mais na parte tática e física. O árbitro precisa estar estudando e entendendo como o jogo ocorre. A velocidade do jogo mudando, tudo mudando, muito mais câmeras, tivemos também a inclusão do VAR no jogo. Eu não tenho dúvidas de que 2019 será um ano de muito crescimento para a arbitragem. Um ano melhor, com certeza. E acredito que as equipes também deixarão de estar transferindo a culpa para a arbitragem."
Reclamações exageradas dos jogadores
"Em 2016 ou 2017, o Sérgio Correa (então presidente da comissão de arbitragem da CBF) aplicou um tratamento diferente, buscando a cruzada pelo respeito. Acredito que isso deva ser reintegrado dentro dos campos de futebol. Claro que parte dos dois lados. O árbitro tem que compreender mais o jogo. Hoje, a Conmebol cobra muito da arbitragem a compreensão do jogo de futebol. Entender como as equipes se postam dentro do campo, entender os jogadores. Dentro desse contexto, que o respeito possa ser mútuo. Acredito que nenhum árbitro entra em campo para aparecer mais do que o jogador ou ser estrela. Temos o entendimento de que eles são as estrelas, eles merecem o estádio cheio vibrando com eles. Que a gente possa passar despercebido."
Os lances difíceis e os erros
"São lances rápidos, interpretativos. O nosso ângulo de visão é um só, e temos poucos segundos. Esse é o resumo do árbitro hoje. Algumas coisas, lógico que vão passar, mas o que a gente pede a Deus e torce é para que sejam situações que passem despercebidas. Sempre gravo meus jogos e assisto novamente para ver o que pode ser melhorado. A gente nunca consegue fazer uma partida perfeita. Sempre tem algo a aprender. Com isso, vamos tentando ser melhor jogo a jogo."
O uso do VAR
"Não vejo o uso do VAR como algo do futuro. É algo do presente. É praticamente impossível hoje, com tantas imagens, com tantas câmeras. O árbitro não pode ser o único dentro do campo a não saber que ele cometeu um equívoco. Isso é muito ruim para todos e para o futebol em si. Através dos líderes do projeto do VAR na CBF, Sérgio Corrêa e Manoel Serapião Filho, a gente vem recebendo treinamento há dois anos. É claro que há um estudo muito grande que precisa ser feito. Tem a questão financeira também, mas isso é muito pequeno perto dos benefícios que o VAR pode trazer para o futebol. O que precisa ser feito é passar para o público e para a imprensa o protocolo. Geralmente, as pessoas pedem para fazer de tudo, querem que o árbitro salve uma falta simples, uma lateral ou um escanteio, mas isso não está dentro do protocolo. São quatro situações específicas: o gol, o pênalti, o cartão vermelho e a identidade equivocada do jogador (na aplicação de um cartão). O futebol precisa que os equívocos sejam minimizados. Fora disso, nada mais pode ser feito. Mais para a frente, a gente não sabe, e o protocolo pode sofrer mudanças. Acredito que seja de extrema importância. O futebol precisa que os equívocos sejam minimizados, e o VAR virá para somar para que a gente possa realmente chegar perto da perfeição.