
As reclamações de dirigentes sobre a arbitragem não são novidade no futebol. Sempre houve tentativas de condicionamento, pressões externas e insinuações para criar narrativas favoráveis aos clubes. Mas o que temos visto no Gauchão 2025 ultrapassa qualquer medida razoável.
O campeonato virou um ambiente onde insinuações sobre supostas conspirações são jogadas ao vento sem qualquer responsabilidade, sem provas, sem embasamento. E o pior: sem consequências.
O que antes era uma estratégia velada para criar uma cortina de fumaça, agora se tornou o discurso oficial de Grêmio e Inter.
Dirigentes de ambos os lados alimentam a ideia de que há um movimento deliberado para prejudicar seus times ou favorecer o rival. E essa onda de manifestações tem crescido de forma desproporcional ao que realmente acontece dentro de campo.
É evidente que há um medo enorme de perder. Qualquer resultado negativo, especialmente em um Gre-Nal decisivo, precisa ter uma desculpa pronta. E, nesse cenário, a arbitragem se tornou o bode expiatório preferido.
Isso fica claro nas recentes declarações de Guto Peixoto, diretor de futebol do Grêmio, e D’Alessandro, diretor esportivo do Inter.
D’Ale levantou suspeitas sobre o VAR no clássico, colocando em dúvida a credibilidade das decisões de Daniel Bins. Dias depois, Guto Peixoto respondeu, insinuando que a presença de Francisco Neto como observador do VAR seria uma espécie de retaliação às reclamações coloradas.
Até apelidos maldosos do passado foram ressuscitados para reforçar essa narrativa. Peixoto foi além ao falar de condicionamento e comparar a quantidade de interferências do VAR em jogos de Grêmio e Inter.
Como se o recurso precisasse ter número de incidências idêntico para as duas equipes para se provar justo.
O problema é que esse discurso já vinha sendo alimentado há tempos, com insinuações e manifestações recorrentes dos dois lados, seja no microfone ou nas redes sociais.
A grande questão é: até quando isso será tratado como algo normal? A relação entre o desempenho da arbitragem e o nível de reclamação dos dirigentes está completamente desproporcional.
Os erros existem como sempre existiram, mas a tentativa de transformar tudo em uma grande conspiração apenas enfraquece a credibilidade da competição. O Gauchão perde. Os árbitros perdem. Os próprios clubes perdem.
E se ninguém faz nada, a situação só tende a piorar. A Federação Gaúcha de Futebol (FGF) não tem poder para punir dirigentes por declarações públicas, a menos que alguém se sinta pessoalmente ofendido e busque reparação judicial.
A única possibilidade de uma sanção esportiva depende da Procuradoria do TJD-RS, que pode denunciar as declarações ao tribunal, caso entenda que houve violação ao Código Brasileiro de Justiça Desportiva.
Até agora não houve denúncias formais. Mas a informação é de que a Procuradoria avalia abrir um processo antes das semifinais do campeonato.
Se isso acontecer, será um primeiro passo para evitar que o Gauchão se torne definitivamente uma terra sem lei, onde qualquer um pode dizer o que quiser, sem prova alguma, e sair impune.
O futebol precisa de crítica, precisa de debate. Mas também precisa de responsabilidade. Porque quando se questiona tudo sem fundamento, a consequência é simples: nada mais tem credibilidade.
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