A escolha por Roger Machado, entre os nomes disponíveis após a interrupção do trabalho de Eduardo Coudet, é um acerto do Inter. Trocar o comando durante a temporada, antes do fim de um ciclo mínimo, ao final do ano, nunca é bom.
É uma cultura que temos de mudar, inclusive para os jogadores saberem que se der errado a culpa será de todos, e não só do comandante. Mas o mundo real do futebol brasileiro gera demissões se uma má fase demora a passar.
Muitas vezes funciona. O próprio Coudet assume no meio do caminho no lugar de Mano Menezes e só não leva o Inter à final da Libertadores por detalhe, rapidamente mudando a cara do time.
O Inter campeão da Libertadores de 2010 tem Celso Roth assumindo antes de uma semifinal, em razão de uma má fase com Jorge Fossati no Brasileirão. Celso teve algum tempo para treinar porque a troca pegou a parada para a Copa do Mundo, mas foi uma mudança.
Roger Machado é uma ótima escolha por vários motivos. Ser gaúcho e conhecer a aldeia é um elemento, mas é o de menos. A razão principal são as circunstâncias que o empurraram para o Inter.
Hoje, Roger é o técnico que mais conhece o elenco colorado. Nenhum outro estudou tanto o Inter, seja para eliminá-lo em dois jogos no Gauchão ou agora, na Copa do Brasil. Os duelos foram espaçados. Por dever de ofício, teve de acompanhar várias partidas do Inter, já que tinha de encará-lo logo ali. Viu-se na obrigação de analisar minuciosamente.
Junto de Roger vem Paulo Paixão, que dispensa apresentações, tanto na preparação física quanto em outro aspecto chave para o momento vermelho, que é o vestiário. Paixão é craque também nisso.
Jogadores (especialmente os de grife, como o Inter tem) olham de um jeito diferente para um supercampeão como ele, com Copa do Mundo nas costas. Por fim, o conceito de futebol de Roger coincide com as características do grupo formado pela direção para este ano.
O trauma tende a ser menor. Roger não vai empurrar a equipe para trás, baixando linhas e jogando só no contra-ataque. O Inter nem tem mais jogadores para jogar radicalmente dessa maneira, com Alan Patrick, Borré, Valencia e Wesley.
Mesmo no Juventude, com menos peças, nunca abriu mão de jogar. Ao contrário, inclusive. Mais maduro, aprendeu a valorizar a posse de bola de modo menos radical, sem considerar traição de princípios momentos de pragmatismo que recomendem uma ênfase defensiva.
Em resumo: Roger me parece a escolha menos traumática diante do trauma que sempre é uma demissão de treinador, com potencial para revitalizar e ressuscitar o Inter ao menos na Sul-Americana, revertendo a derrota para o Rosario Central por 1 a 0.