Desde que o Grêmio anunciou Diego Costa, 35 anos, como substituto de Luiz Suárez, no anoitecer de quinta-feira (8), tomei a seguinte providência empírica e sem rigores científicos para esta coluna. A cada gremista que encontrava ou me puxava para um bate-papo, fazia a seguinte pergunta:
Diego Costa mudou teu Carnaval?
Não era desde 7 de dezembro de 2023, dia seguinte à vitória por 3 a 2 sobre o Fluminense no Maracanã, última rodada do Brasileirão, que torcida discutia o camisa 9 . Era um assunto que povoava o imaginário gremista desde julho, quando as partes anunciaram oficialmente que o contrato não seria de dois anos, mas apenas um, em razão da insistência por jogar o quanto antes com Messi no Inter Miami.
Vou além. Até antes disso, nos bastidores, a direção do Grêmio já sabia que não contaria com Suárez este ano. O Grêmio teve sete meses para pensar e vasculhar o mercado atrás do herdeiro do Pistoleiro, e as últimas temporadas de sua escolha não o recomendam. Diego Costa nunca foi o ficha 1. O que não é problema. Nem sempre dá para trazer quem você pretende.
Às vezes o acaso te protege. Paulo Nunes veio no contrapeso de Magno, à época chamado pelo senso de humor carioca de "Romagno". O resto da história você conhece. Magno mergulhou no anonimato, enquanto Paulo Nunes alcançou a glória no Grêmio e no Palmeiras, com títulos que o levaram à Seleção.
Só que tudo ficou diferente no pós-Suárez, pelo tamanho e desempenho do personagem. Falou-se em Gabigol. Em Cavani. O Grêmio sempre negou, é verdade. Mas Funes Mori e Tiquinho Soares, embora muito abaixo de Suárez, são goleadores e ídolos de seus times neste momento. O Grêmio tentou trazê-los, mas não conseguiu.O argentino Funes Mori, virou ídolo do Monterrey e até jogador da seleção mexicana. Tiquinho Soares colocou o próprio Diego Costa na reserva do Botafogo, empilhando gols.
Se Diego Costa estava livre no mercado e o Grêmio só foi nele às ganhas agora, fechada a janela da Europa, é óbvio que nunca foi o sonho de consumo. Nos acréscimos, tendo de fazer o gol a qualquer custo, o negócio é bola na área.
Diego Costa é um pouco o resultado dessa correria por reverter o placar no fim do jogo. Minha sensação é de que o Grêmio, à certa altura, tornou-se prisioneiro da imagem de Suárez. O substituto tinha de ser alguém famoso como premissa. Bem, Diego Costa é famoso.
Pode não estar bem agora, mas sua carreira na Europa, entre 2010 e 2020, no Chelsea e no Atlético de Madrid, foi top. Faz tempo, mas habitou a mais alta prateleira entre os grandes. Fez três gols na Copa da Rússia, pela Espanha. Ganhou Premier League e La Liga duas vezes. Só que ele não vem pelo que está fazendo, mas pelo que já fez. Com um detalhe: a ideia do veterano que não faz mais diferença na Europa e no Brasil vai sobrar não se aplicou a ele. Não aconteceu no Galo e no Botafogo, onde era reserva.
Pode acontecer no Grêmio? Sim. Aqui ele terá sequência e tempo para engrenar. Quem sabe não foi esse o seu problema no retorno ao Brasil? Por outro lado, é fato: já no Gre-Nal ir de Diego Costa em vez de JP Galvão é um alívio.
Todas essas questões entoaram minhas conversas com gremistas desde o anúncio de Diego Costa. A resposta à pergunta — "Diego Costa mudou o teu Carnaval?" — oscilou entre o silêncio com caretas antes da negativa e o "não" imediato.
Não há aquele entusiasmo que lotou a Arena na apresentação de Suárez. Mesmo com essa sensação de que veio meio na raspa do tacho, não condeno a tentativa. Percebe-se até alguma esperança, talvez na ideia de que não tem como piorar. Ninguém desaprende, como diz Renato.
Para o Gauchão, baita acréscimo. Tem de ver no Brasileirão e Libertadores, quando a régua subir. O fato é que o preço final da fama só saberemos em dezembro, ao final do contrato de Diego Costa, o centroavante famoso do Grêmio.