O maior dos fracassos é o do Grêmio, que gabaritou o rebaixamento e assinou a pior página de seus 118 anos ao permanecer o campeonato inteiro no Z-4. Foram seis meses de sofrimento e memes para o seu torcedor. Bem, aviso que está só começando. Algumas cidades da Série B são talhadas para piadas. Tombos, em Minas Gerais, onde joga a Tombense, talvez seja o caso mais emblemático. Tombar na Série A e depois jogar em Tombos na Série B é muita crueldade. Nada de voos fretados. Vai ter muito ônibus e rodoviária na vida do Grêmio por esse interior brasileiro. E tudo aconteceu com dinheiro farto em caixa e salários em dia. Um fiasco nacional lendário. Exagero?
O Grêmio acaba de se igualar ao combalido Botafogo em número de rebaixamentos. Mais uma queda e buscará os quatro Vasco, líder absoluto desse ranking constrangedor entre os 13 maiores clubes brasileiros. Com a façanha do terceiro mergulho na Segunda Divisão, o Grêmio passa a ter mais rebaixamentos do que títulos brasileiros: 3 a 2.
Eis as consequências do monumento à incompetência que foi a queda do Grêmio. Uma tragédia consumada na quinta-feira, porém cuja raiz é mais profunda e se traduz em reforços errados, hipertrofia do vestiário (completa inversão de autoridade: o clube refém dos jogadores) e dança de técnicos (fecha a casinha, abre a casinha).
O ano do Inter está salvo pelo desterro do Grêmio. É a rivalidade. Nesse sentido, pela primeira vez nos últimos cinco anos, não trabalhará com a pressão da gangorra Gre-Nal a lhe pressionar. É uma vantagem significativa na Província de São Pedro. Concordo. Mas, do ponto esportivo, também o ano colorado foi fiasquento. Senão, vejamos. Perdeu o Gauchão para um um time de Série B (Grêmio), a Copa do Brasil para outro de Série C (Vitória) e saiu fora da Libertadores nas oitavas, eliminado pelo pior time da fase, o Olimpia. Isso sem ganhar do possante boliviano Always Ready na fase de grupos. Perdeu na atitude? Ok. Mas no Beira-Rio ficou no 0 a 0. Não fez gol no Always. No Brasileirão, o time de Diego Aguirre restou dois pontos acima do Juventude, que escapou da degola na bacia das almas, nos últimos minutos do campeonato, diante do Corinthians. Aqui, um asterisco. O Juventude merece elogios pela valentia e organização. Seu cenário é diferente. Jogou outro campeonato. Manter-se na elite é título.
Há um ponto que une os fiascos de Grêmio (mais grave) e de Inter (menos grave só que o do Grêmio) em 2021. Ambos se afogaram na areia movediça da grenalização. O Grêmio se enganou ganhando Gre-Nais. A longa série invicta sobre o Inter, ainda com Renato, mascarou defeitos que foram tomando contornos não administráveis, como os grupinhos de vestiário. O Grêmio ensaiava derrotas vexatórias no país, mas ao seguir à frente do rival na aldeia esquecia tudo. O próprio torcedor aceitava esse salvo-conduto. Curtia. E o Inter, quando enfim venceu Gre-Nal no Brasileirão deste ano, contentou-se em dar o golpe fatal que levou o Grêmio ao precipício. Em seguida desatou a perder quase todas as partidas, como se o mundo se resumisse em ganhar de um Grêmio que, viu-se depois, já era padrão Série B.
Em 2021, a boa rivalidade descambou para a mediocridade, transformando-se nesta praga chamada grenalização. Depois de ganhar o Gre-Nal, houve colorados cantando “arerê” até em derrotas do Inter. Festa em derrota, imagine. Foi-se o foco. O clima grenalizado entrou no vestiário de um time que, focado, já não é lá um Brastemp. Imagine desmobilizado. Mais duas rodadas e o rebaixamento seria real. Vale o mesmo para gremistas que viviam de cantar vantagem em Gre-Nal, apesar de um 5 a 0 do Flamengo aqui, outro 4 a 0 do Santos ali, pagando mico no Jornal Nacional. Urge extirpar a grande praga da grenalização, que alimentou até o mais idiota dos clássicos, entre empreiteiras da Arena e Beira-Rio. Debatia-se qual a construtora mais…. honesta! Francamente: Quero a velha e boa rivalidade que nos fez bicampeões mundiais de volta.