No Sala de Redação, o Alex Bagé trouxe a informação de que Tiago Nunes pediu desculpas no intervalo do jogo do Grêmio contra o Santos para Matheus Henrique, que o mandou tomar suco de caju ao ver o técnico culpando-o pelo primeiro gol paulista, de Marcos Guilherme.
O próprio Matheus, ao final da partida, desculpou-se publicamente perante as câmeras de TV. Reconheceu o erro. É o primeiro passo para se corrigir no futuro. Mandou bem. Só que fiquei com uma dúvida. Se o técnico fez a cobrança ao vivo e entende que exagerou no tom, por que não se comunicar com a audiência toda que viu a cena de forma mais enfática, como fez o jogador?
Não entendo que esse episódio indique crise dramática ou algo do gênero, mas é estranho e merece atenção. Nunca havia acontecido neste Grêmio. Só lembro de uma vez, quando Maicon ficou brabo por ter sido substituído por Renato, mas depois explicou que estava irritado pela própria má atuação.
E, mesmo que tenha sido uma desculpa acertada, deve-se dizer: houve esse acerto. A autoridade de Renato não restou tisnada. Além do mais, Maicon jamais xingou Renato, como Matheus ofendeu Tiago.
Ali, no momento da explosão de Matheus, pareceu-me que ele reclamava, na linguagem do futebol, que não é feita de pronomes de tratamento tipo vossa excelência, de que outros tinham de ser cobrados antes, e não ele.
Cascudos versus pratas da casa?
Essa dúvida sempre vem em todos os clubes em crise técnica, como é o caso do Grêmio, na lanterna do Brasileirão após cinco jogos sem vencer, dois pontos apenas. Há uma geração talentosa e vencedora no passado (Geromel, Kannemann, Maicon) que, somada a outros cascudos (Diego Souza, Rafinha, Lucas Silva), naturalmente tomam conta do vestiário e tiram espaço da gurizada.
É um conflito natural, mas que precisa ser bem administrado. Mais: tem de ter acompanhamento especial. O surto de covid-19 e o calendário estafante concorre para estresses assim. Aconteceu com Pedro, do Flamengo, mas Rogério Ceni o criticou. Perdoou e passou régua por cima, mas o condenou. No caso do Grêmio, a saída foi relevar o tema.
— Não vejo uma situação emocional. Existe discussão e debate por homens que querem ganhar e estão defendendo a instituição. O Matheus Henrique se desculpou no intervalo e vida que segue, não temos mais nada para falar disso — declarou Tiago Nunes sobre o tema, ao final da partida com o Santos.
A gestão do vestiário é premissa básica, e no futebol brasileiro essa parte é ainda mais delicada. Tiago Nunes e o Grêmio tem de ter todo o cuidado. Se degringolar nesse aspecto, nem Guardiola resolve o lado técnico e tático, pois o ambiente fracionando impede a união em torno do mesmo objetivo. No Athletico-PR, Tiago Nunes deu show na gestão de pessoas. No Corinthians, teve problemas com Ralf e Jadson. Cada clube tem uma identidade e uma situação momentânea diferente, mas é preciso luz alta sempre.