O noticiário afirma que Alexandre Pato, prodígio campeão mundial (2006) e da Recopa Sul-Americana (2007), está retornando ao Inter. Aceitaria ganhar menos do que no São Paulo mesmo somando luvas e incluir cláusulas de produtividade para o caso de não dar a resposta adequada. O problema é que faz muito tempo que o problema de Pato é o mesmo: ele parece não se envolver com projeto algum, já com a vida ganha e um especial apreço pelas colunas sociais e ambientes VIP.
Aos 31 anos, por que seria diferente com o Inter? É aí que entra algo que nada tem a ver com questões práticas como a relação custo-benefício e eventuais ciúmes no grupo de jogadores pela badalação em torno dele. É a clássica parábola da volta do filho pródigo, que aparece uma única vez no Evangelho de Lucas. O mais novo herda a riqueza da família e sai para viver a sua vida. Perde tudo em extravagâncias, para então voltar arrependido. É uma história que se encaixa perfeitamente com o Inter e Pato.
Ele sai em 2007, imberbe, aos 17 anos, com riqueza de futuro. Tem um lampejo reluzente no Milan e depois, aos poucos, vai se apagando por vários clubes até ser reserva de Boia e Carneiro no São Paulo. Volta pobre nesse sentido, com a última chance de recuperar a credibilidade como jogador justamente na casa que o acolheu e lhe deu a chance de correr o mundo: o Beira-Rio.
É uma metáfora, claro. Dinheiro, no sentido estrito, não lhe falta. É impossível um imaginário assim não criar esperança. Ronaldinho esteve para voltar ao Grêmio, apesar do trauma da saída, mas o Grêmio foi atrás dele pela mesma questão: em casa, tudo seria diferente. O negócio não fechou porque ele preferiu o Flamengo, mas o Grêmio o queria. Renato só foi campeão na terceira chance. Por que recebeu mais oportunidades, até erguer taça? Por que a instituição Grêmio queria que ele desse certo.
A volta de Pato transcende questões práticas do futebol. É aí que reside a esperança de o negócio dar certo. O fato de ele não ser um estranho no ninho o ajudará a ser melhor recebido, inclusive no sentido da ciumeira pelo salário. Que, mesmo menor do que no Morumbi, não será baixo. Nesse ponto, ainda é preciso saber ao certo as condições de sua volta. O fato é que só a possibilidade da volta de Pato ao Inter incendiou os debates, envolvendo colorados e gremistas, a favor e contra. Não deixa de ser uma prova do seu tamanho, até mesmo para substituir Guerrero em termos de idolatria na torcida.
Talento sobra em Alexandre Pato. Só que, para esse talento ressurgir das cinzas, ele tem de se convencer da importância das tarefas operárias a cumprir. Sem isso, nada feito. Com isso, a parábola pode se confirmar.