O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, como se sabe, é torcedor do Botafogo. Não um torcedor famoso qualquer, mas daqueles engajados, que entende de futebol. Já o entrevistei no Gaúcha Mais, da Rádio Gaúcha. O assunto, à época, era a Reforma da Previdência, mas encaixei uma pergunta sobre o seu clube do coração depois de esgotadas as questões do tema central.
Ele gosta do assunto. Sabe nomes de jogadores e a realidade de gestão do nosso futebol. Especialmente do seu, o Botafogo. Tanto que trabalha com muita força, inclusive já tendo telefonado para presidentes de clubes — o Inter foi um deles — em defesa do projeto de lei que cria o clube empresa através de sociedade anônima. Nos bastidores, o que se fala é que a ideia seria a salvação do Botafogo, a partir de um projeto engatilhado dos irmãos Moreira Salles.
Alvo da artilharia bolsonarista nas redes sociais, Rodrigo Maia questionou a relevância e a urgência da MP apresentada pelo governo a pedido do Flamengo, mudando as normas dos direitos de transmissão. Em vez do consentimento de ambos, o Planalto e o Ninho do Urubu querem que apenas o mandante seja dono. O Flamengo, como se sabe, não aceitou a oferta da Globo para passar seus jogo no Estadual.
Em entrevista coletiva, o presidente da Câmara disse:
— Não entendi por que a edição (da MP). O que eu defendo é que essa discussão é mais profunda do que cabe numa medida provisória. Não sei nem se tem relevância e urgência para discutir uma questão de utilização das transmissões.
Maia entende até que os direitos de transmissão estão inseridas em um debate que pode evoluir para uma liga dos clubes, independente da CBF. Sendo assim, sequer poderia ser tratada de forma isolada, como na MP.
Em resumo: Maia não gostou da MP que tenta impor uma ideia de afogadilho, sem consulta prévia aos cubes brasileiros. Inicialmente, alguns presidentes de clubes se manifestaram a favor da livre negociação de seus jogos como mandantes, mas há especialistas que defendem ser um tiro no pé. Os mais ricos ficariam com os melhores contratos, deixando médios e pequenos com os menos e, quem sabe, sem nada. A medida provisória entra em vigor no mesmo dia da publicação, mas precisa ser aprovada ou rejeitada pelo Congresso em até 60 dias, renováveis pelo mesmo período. Até que isso aconteça, tem poder de lei..
Com a prisão de Fabrício Queiroz, ex-motorista do senador Flavio Bolsonaro e acusado de irregularidades com o dinheiro público que teriam beneficiado a família presidencial, são grandes as chances de a MP ser derrotada logo ali adiante. O cenário no Congresso não é dos melhores para o governo federal. Não duvido que a MP apenas uma provocação arrogante de Bolsonaro e do Flamengo, tendo como pano de fundo a volta do Campeonato Carioca em meio às mortes da covid-19.