Estavam certas as previsões feitas por Rafael Lacerda. No meu papo com ele, o técnico do Caxias apostava tudo em uma reunião dos dirigentes com autoridades municipais, esta semana. Bingo. Os treinos, em grupos separados, foram liberados. Era questão de bom senso: a mesma bandeira estadual laranja que, em Porto Alegre, permite a Grêmio, Inter e São José trabalharem fisicamente há mais de um mês, em Caxias do Sul era proibitiva em razão do decreto mais restritivo. Que, no caso, era o municipal, do prefeito Flávio Cassina (PTB).
Os jogadores do Caxias serão testados para covid-19 nesta sexta-feira (5), e assim será de 10 em 10 dias. O resultado sai em até três dias. Depois, mãos à obra. Isso no Centenário. No Alfredo Jaconi, não. Ao contrário de Grêmio e Inter, unidos em tudo para finalizar o Gauchão, a dupla Ca-Ju rachou. No centro do conflito, além de uma rivalidade forte, a chance real de o Caxias ser campeão pela segunda vez na história e ultrapassar o Juventude, vencedor em 1998.
NOS MICROFONES
O presidente do Juventude, Walter Dal Zoto Jr, diz que prefere esperar a atualização das bandeiras do plano de distanciamento controlado criado pelo Palácio Piratini, que acontece aos sábados. Se a Serra passar da laranja para a vermelha, de fato o retorno terá de ser abortado. Outra razão é o custo com testes regulares sem saber oficialmente quando o Gauchão voltará. Essa é a versão oficial do Juventude, que se baseia em um acordo feito lá atrás para ambos retornarem aos treinos juntos. Dal Zoto declarou-se "espantado" com a atitude do rival. Uma estocada de leve. É que Paulo César dos Santos, presidente do Caxias, reuniu-se em separado com o prefeito em nome do aval para treinar já. Ele foi claro: não pode mais esperar, vendo Grêmio e Inter voando.
NOS BASTIDORES
Lá no fundo, cá com meus botões, está na cara. O Juventude não está fazendo força para finalizar um campeonato que ainda pode ter o rival como grande campeão. Não terá a bilheteria, com portões fechados. O dinheiro da TV está todo na conta, já que a FGF antecipou a terceira e última parcela da TV através de um parceiro – Inter e Grêmio só receberão se os jogos recomeçarem.
A cereja do bolo veio com o fim do rebaixamento. A um ponto da zona da degola, a tabela era medonha: Caxias pensando em título, no Jaconi; Brasil-Pel lutando para não cair, no Bento Freitas; e o Esportivo, rivalidade forte na região, também no Jaconi. Livre do risco, o Juventude está liberado para focar em seus objetivos, que são a Série B e a milionária Copa do Brasil. Ambos sem previsão.
DISTORÇÃO
O Caxias, vendo que pegaria no sono se fosse esperar o Juventude, rompeu o acordo e foi sozinho lutar pela volta aos treinos. Se quiser o bi, não pode mais perder um dia de trabalho em relação a Grêmio e Inter. E qual o fato gerador desta guerra de bastidores? Concordo que, para salvar o Gauchão, eliminar o rebaixamento talvez tenha sido um mal necessário. Era preciso unanimidade. Os cinco times ameaçados, quase a metade, ficaram com a faca e o queijo na mão. Aliaram-se.
Mas, ainda assim, tirar o descenso segue sendo um mal. Na Europa, campeonato algum cogita isso. E não apenas lá. No Paraná, idem. Fato é que a decisão criou essa distorção: o desinteresse pela ponta de baixo que pode refletir na de cima. E com reflexos até para treinar, como nessa polêmica Ca-Ju.