Os grandes personagens deste Gre-Nal 421 de reservas, sem a menor réstia de dúvida, são Renato e Odair. Eles passaram a semana abaixo de mau tempo. Foram criticados por nós, cronistas, e por suas torcidas. Nos bastidores, até por gremistas e colorados influentes. Tivessem sido eliminados por Bahia e Palmeiras na Copa do Brasil, hoje as redes sociais estariam inundadas da seguinte enquete estapafúrdia: "O técnico derrotado no Gre-Nal corre o risco de demissão?". Talvez a corda rompesse mais facilmente para o lado de Odair, já que o crédito de Renato no Grêmio é infinito.
Começo por ele, Renato.
Eu estava no estúdio da Rádio Gaúcha quando saiu a escalação, lá na Fonte Nova, com André e Alisson. Os recados pelo WhattsApp simplesmente nos impediram de abrir as mensagens, tal a avalanche de reclamações contra Renato. O Luciano Périco, que estava no comando das picapes, viu-se forçado a desistir de ler. A torcida não queria André no time de jeito nenhum. Classificava a insistência como teimosia. Concordei que Tardelli ou Luan deveriam jogar, mas discordei das razões. Os gremistas, com razão, vêem Pepê como dublê de Everton. Por isso o queriam do outro lado, em vez de Alisson.
O fato é que até Renato, o homem-estátua, deixou de ser intocável naquele momento. Em caso de eliminação em Salvador e derrota no Gre-Nal deste sábado (20), pode apostar que a possibilidade de sua saída, no embalo da tese da fadiga dos metais, já não teria matizes heréticos. O império do resultado não poupa nem mesmo quem os têm, como Renato. O Grêmio fez uma partida madura em Salvador, atacando o tempo todo e bloqueando os contra-ataques do Bahia, o que implica organização e envolvimento coletivo. Uma partida perfeita.
E Odair?
Trata-se de um sobrevivente. Quantas vezes discutimos sua possível demissão após esta ou aquela derrota? Esta semana, pela ira da torcida, confesso que pensei: se for eliminado pelo Palmeiras e perder o Gre-Nal, talvez seja impossível segurá-lo. Seria um erro, mas o quadro de rejeição que se desenhava era o mais forte em um ano e meio no cargo. O técnico do Inter ouviu o pão que o diabo amassou ao perder no Allianz Parque sem D'Ale, em nome de quatro meio-campistas com mais força de marcação do que criação. Reduziu quase toda a chance de ganhar, mas voltou vivo para o Beira-Rio.
Bastava acrescentar D'Ale para aliviar a bronca, mas de novo Odair contrariou a maioria em nome de suas convicções. Tirou Nonato para manter Patrick. Eu mesmo escrevi uma coluna com o título: "Por que Nonato tem de jogar contra o Palmeiras". Expus meus motivos, aqui do outro lado do balcão, sem o dia-a-dia dos treinos fechados. Um deles era a fluência no passe, em jogo no qual a posse seria do Inter. Mas a vitória do Inter foi total: tática, técnica e mental, como se viu na frieza dos pênaltis. E com bola no chão.
Nunca saberemos se a classificação do Inter não viria também sem Patrick. Ou a do Grêmio, sem André. Mas este "se" não é importante. O justo é reconhecer: a estratégia deu certo. Odair e Renato jamais poderão ser acusados de demagogos. Não jogaram para a galera, de olho em salvar o emprego, e olha que ninguém os condenaria. A crítica ao trabalho do técnico, uma instituição nacional, é normal. O aplauso eterno e, por isso, bajulador, é tatuagem das ditaduras. A democracia, graças a Deus, é o regime da vaia. Desde que uma fronteira não seja ultrapassada: a da responsabilidade.
O que não se pode fazer é dar vazão a ilações nebulosas, creditando escolhas a supostos interesses alheios ao campo. Por um motivo óbvio: seria burrice maior do que cortar investimentos em educação. Se um treinador de fato acha que o melhor é escalar fulano, mas vai de beltrano só para mostrar quem manda, pior para ele. Se o time piorar e o resultado faltar, a primeira cabeça a rolar é a sua. Renato não desiste de André por entender que, mesmo sem o gol, o time joga melhor com ele. Quando Odair tira D'Ale para preservá-lo, têm convicção de ser o único jeito de tirar-lhes o máximo. Simples assim.
Os técnicos ainda tiveram um mérito adicional. Não se jactaram após o triunfo. Não embarcaram no clássico "falem agora". Não houve nem alfinetada, e até daria para entender se viessem, tão o nível raso do debate as redes sociais. Mesmo que eles, calejados, não liguem para os corajosos anônimos da internet, familiares e amigos lêem as ofensas e fake news. E sofrem. Renato e Odair chegam maiores a este Gre-Nal.