Sou minoria entre os jornalistas que, como eu, andam para cima e para baixo na Rússia nas pegadas da Seleção, subindo e descendo de avião, sofrendo nos balcões de embarque, à espera de um mísero voo sem atraso e sem uma nova taxa. É que a maioria defende Roberto Firmino no lugar de Gabriel Jesus nas quartas de final, contra a Bélgica, sexta-feira, na Arena Kazan.
De fato, Firmino vive ótima fase. Já tem até gol nesta Copa. Mas, contra o México, o drible de Gabriel já saiu, como naquele chapéu em Layun, que entrou para provocar Neymar. Teve boas arrancadas. Falta-lhe o gol, tão somente. É um adolescente. E se, contra a Bélgica, Jesus ressuscitar feito Willian diante dos mexicanos?
Há um motivo para Tite esperar tanto ressurreição do menino Jesus. De confiar tanto nele. É que a entrega para o time do atacante do Manchester City comove sinceramente a comissão técnica.
Se pedirem a ele para dar um peixinho numa parede, desde que seja para ajudar a equipe, Gabriel Jesus obedece sem pensar. O resto do time o respeita muito por esse comportamento humilde. Não é uma virtude tão comum assim em jovens estrelas do futebol, neste mundo individualista. O que Gabriel Jesus diz e faz soa como música aos ouvidos da comissão técnica.
— Não tenho vergonha de marcar. Atacante pode e deve dar carrinho, sim. De repente você não faz o gol, mas rouba uma bola que redunda e um gol. Não pode só o pessoal lá atrás roer osso e a gente aqui na frente esperar de mão beijada. Sempre fui assim, desde o Palmeiras. Somos um time. Isso é muito sério aqui na Seleção _ afirmou Gabriel Jesus em uma entrevista em Sochi, de onde a Seleção está se despedindo, rumo a Kazan.
Contra o México, ele trocou de função com Neymar no segundo tempo, para tirar o camisa 10 da frente de Layun, que nitidamente entrou para provocar o craque brasileiro. E fez isso muito bem. Deu chapéu, reteve a bola, irritou o adversário, usou bem o corpo, protegeu a bola. Você nunca o vê parado.
Firmino participa menos. É mais estrela, por assim dizer. Não contribui tanto para o time na hora de marcar. E, contra os belgas, será preciso todos ajudarem na marcação. De Gabriel fosse um cabeça de bagre, tudo bem. Mas ele chegou na Copa como o goleador da Era Tite. Guardiola o enche de elogios a cada entrevista. Pediu a sua contratação junto ao Palmeiras, inclusive.
Nas Eliminatórias, quando Tite assumiu e tanto poderia ser o salvador quanto o demônio, caso a classificação não viesse, Gabriel Jesus lutava e fazia muitos gols. Agora, está faltando o gol, tão essencial para um atacante. Mas o resto ele segue entregando: bravura, luta, solidariedade. Sem Jesus, Tite não estaria na Rússia. O menino ainda tem crédito, portanto.