A atuação - e a escalação - de Gabriel Jesus e Firmino na Seleção Brasileira tem sido um dos principais questionamentos feitos a Tite nesta Copa do Mundo. Um joga muito tempo e não faz gol. O outro jogou pouco tempo, mas fez gol e, além disso, deu assistência para Coutinho marcar no momento de maior apuro da Seleção nesta Copa. O titular, no entanto, é Gabriel Jesus. E isso, lógico, alimenta debate sobre quem deve ser o centroavante da Seleção Brasileira.
Gabriel Jesus, o que não faz gol, é o dono da posição e continuará sendo, conforme Tite já antecipou até para dar fim ao tema. Roberto Firmino, o que faz gol e brilha em poucos minutos mais do que seus dentes brancos, vai esperar um pouco mais. Porém, por mais que Tite tente encerrar a discussão sobre o tema, o debate prosseguirá.
Vivemos em um país no qual centroavante da Seleção é cargo nacional de confiança e teve como inquilinos recentes linhagem de fazer qualquer um suspirar: Careca, Romário, Ronaldo e Adriano.
Tite conta hoje para a posição com dois jogadores do primeiro escalão europeu, mas que estranhamente não jogam como centroavante de carteirinha em seus clubes. Gabriel Jesus é o pupilo de Guardiola no Manchester City. O catalão veio buscá-lo no Palmeiras para terminar de lapidá-lo como se fosse seu filho. Firmino é o “street boy” de Jurgen Klopp no Liverpool. O alemão o qualificou assim pelo estilo agressivo de jogar.
O alagoano, aliás, único nordestino desta Seleção, integra o trio ofensivo mais efetivo da Inglaterra na temporada passada. Sua contribuição ao time foi efetiva: 27 gols em 54 jogos. Ou seja, faz gol jogo sim, jogo não. Contar com dois atacantes desse quilate divide Tite.
— Uma das coisas que mais me doem é deixar atletas de qualidade de fora. O Firmino está jogando muito. Falo isso como reconhecimento ao trabalho — disse Tite, de forma espontânea, antes da partida contra a Sérvia.
A condição de titular Gabriel Jesus, no entanto, é inabalável. Mesmo sem gol – o último foi no amistoso contra a Áustria, há 24 dias. As estatísticas jogam contra. Pela primeira vez, o centroavante da Seleção cruza a primeira fase sem fazer gol. Depois da classificação sobre o México, Tite foi questionado sobre o tema e sobre a mudança tática que empurrou Gabriel para o lado esquerdo, com Firmino mais à frente. Seria um sinal de troca? O técnico delegou a resposta para Sylvinho. Ficou claro que há plena satisfação com o titular.
— Ele é um trator. Cumpre função excepcional, faz parte dessa construção que o Tite tem montado — resumiu Sylvinho.
O auxiliar aludia à movimentação, ao pivô que faz para Neymar e Coutinho e, principalmente, à entrega na marcação. Isso faz com que corra por ele e por Neymar, deixando o craque com mais energia para criar. A falta de gols de Gabriel faz com que os mais veteranos saiam em sua defesa sem nem mesmo serem questionados. Capitão contra o México, Thiago Silva elogiou publicamente o caçula do grupo quando questionado sobre solidez defensiva da Seleção:
— Se não estamos levando gol é porque marcação está equilibrada desde o nosso ataque. Parabenizei o Jesus pelo grande jogo. Ele se doa para o time ao máximo. Se precisar colocar a cabeça para o adversário chutar, ele coloca.
A falta de gols causa ansiedade, mas está longe de tirar a alegria de Gabriel. Aliás, ele é o exemplo de pessoa que, de tão alegre, fala sorrindo. Sempre. Na Copa de 2014, ainda júnior do Palmeiras, estava pintando a sua rua de verde e amarelo no Jardim Peri, na zona norte paulistana. Como um conto de fadas, quatro anos depois, está na Copa - e jogando.
Por isso, Gabriel nunca esconde a felicidade. Mesmo quando as perguntas se repetem sobre a falta de gols. Ao seu modo, com um jeito adolescente de falar, mostra algum incômodo.
— Ah, cara, essa questão do gol já falei algumas vezes e chega até ser chato — disse após a vitória do Brasil sobre o México.
Em seguida, se revela tranquilo e seguro do que sua entrega para a Seleção garante sua estabilidade. Falta o gol, e ele admite que isso é ruim para um centroavante. Mas há uma compensação.
— O que falta é o gol. Na minha curta carreira, em muitas partidas em que fiz um ou dois gols e não joguei tão bem como agora. Estou satisfeito com o meu trabalho na Seleção. Minha cabeça está bem tranquila.
Não só Gabriel Jesus está com a cabeça tranquila. Tite também. O técnico não esquece dos 10 gols marcados pelo jogador até a Copa. Principalmente, os dois contra o Equador.
— Artilheiro não vive de gols, artilheiro vive de fazer grandes jogos. Por vezes, a bola surge para ele concluir ou surge para outro. O futebol é assim. Ele tem essa condição (de titular) — encerrou Tite.