Lá na Rússia, antes da transmissão da final da Copa entre França e Croácia, discutíamos Neymar. Ele continuava a ser assunto mundial mesmo após a eliminação brasileira, por ter rolado muita vezes no chão quando o mexicano Layun lhe deu um pisão sem bola. Lá pelas tantas, eu disse: "Podemos discutir Neymar o dia todo, mas sem perder de vista o seguinte: ele não é problema. É solução".
Duvido que exista um só técnico no planeta que o deixasse na reserva, mesmo se ele pintasse o cabelo de limão cintilante ou se fantasiasse de Carmem Miranda. Liderou a Seleção na conquista do inédito ouro olímpico. Em 2014, estava bem até lhe quebrarem uma costela com uma joelhada covarde.
Na Rússia, vinha de cirurgia. Aos 26 anos, já deu Libertadores e Copa do Brasil ao Santos. Ganhou tudo no Barcelona. Por que, então, Neymar tem rejeição na torcida brasileira, espanhola e francesa, quando poderia e deveria ser quase unanimidade?
Por episódios como este, do mea culpa pago. Qual é a sinceridade de um desabafo patrocinado, se é que havia necessidade de se desculpar? Neymar reverbera uma praga moderna, que é a cultura da ostentação. Busca-se afirmação pela riqueza e pelo sucesso, e não pelo gesto. Suas ações sociais não conseguem desconstruir esta imagem.
Os relatos de vestiário apontam para um Neymar gentil, doce e simples. Ouvi essa análise de uma pessoa insuspeita: Tite. Não creio que Neymar ostente de propósito, portanto. Mas em um país pobre, que tenta se livrar do lema "gosto de levar vantagem em tudo, certo?", essa ideia de transformar reflexão em peça publicitária é lunática.
O cabelo pintado na Copa fica parecendo busca dos holofotes para atrair cliques e valorizar as marcas que lhe pagam cachê. Enfim: o que Neymar e seu patrocinador ganham com esta tentativa de lucrar com uma questão ética, caso da acusação de simulação, através de um texto lido e nada autêntico?
Que gol contra, Deus do céu. Chamem o Bernardinho, que se colocou à disposição para orientá-lo na carreira. Só ele pode salvar Neymar.
Antes que seja tarde.