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O grande evento esportivo das festas natalinas é o clássico estelar entre o Barcelona e um Real Madrid ainda com o frescor do sexto título mundial conquistado sobre o Grêmio. Todos os olhares se voltarão para Messi e Cristiano Ronaldo, que juntos somam 10 bolas de ouro. É um erro. Quer dizer: não é a verdade inteira. Quase sempre a história é contada pela ótica dos vencedores ou de seus grandes personagens, não só no futebol. Não precisa ser assim.
Uma parte da verdade também está ao lado dos derrotados e de alguns “anônimos”. A sobrancelha de Cristiano Ronaldo e a barba de Messi são mais procuradas pelas câmeras do que a própria bola, mas Casemiro e Paulinho estão lá. No mesmo palco. Quantos fotógrafos viram as lentes para eles? Poucos. Pois são estes anti-heróis que me fazem acreditar em um 2018 melhor para todos nós, apesar da campanha eleitoral anunciar crueldades de todos os matizes, vitaminadas por fake news de direita e de esquerda, e quem duvidar que elas venham também do centro é ingênuo.
Ninguém, mas ninguém mesmo, diria que Casemiro e Paulinho um dia seriam titulares irremovíveis de Real e Barça. E da nova Seleção Brasileira, sob o comando de Tite. Dia desses, Paulinho afirmou: “Se lá atrás eu ouvisse alguém dizendo que um dia eu jogaria na Seleção e no Barcelona, te garanto que chamaria o cara de louco”. A imprensa catalã levou a sério o que ele pensava no passado, ridicularizando-o até o limite do bulliyng, quando o volante foi buscado no futebol chinês. Hoje, Paulinho marca, entra na área, faz gols e troca passes com Messi, que lhe devolve a bola sorrindo. Os que o criticaram sumariamente devem estar entre envergonhados e constrangidos.
Quando Casemiro deixou o São Paulo, emprestado, ninguém se importou. Era janeiro de 2013. Nem o próprio clube de Madri via futuro nele. Tanto que o mandou fazer vestibular no Real Madrid Castilla, o time B merengue, onde Casemiro mais empatou e perdeu do que venceu, em seis meses. José Mourinho gostou de vê-lo substituindo Xabi Alonso numa única partida do time principal, em caráter de emergência, e mandou contratá-lo. O Real pagou R$ 18 milhões. Para se ter ideia, o Grêmio vendeu Pedro Rocha ao Spartak por
R$ 45 milhões. Casemiro recebia elogios comedidos nas seleções da CBF e no Morumbi. O xodó era Lucas, negociado antes para o PSG por R$ 105 milhões. Mas o que nos ensinam Casemiro e Paulinho?
Que vale a pena trabalhar duro e ter fé, ignorando o descrédito, o terrorismo emocional das redes sociais e tudo mais que te ponha para baixo. Prefiro pensar que não há loucura em projetar o Grêmio voltando ao Mundial em dezembro de 2018. Quantos apostavam na final contra o Real Madrid em Abu Dhabi? Prefiro pensar que o Inter pode ser campeão brasileiro, mesmo regressando da Série B. Em janeiro de 2006, ninguém imaginaria que, em dezembro, a América e o Mundo se banhariam em vermelho contra o grande Barcelona de Ronaldinho e Iniesta. Pode até não acontecer nada disso, mas Grêmio e Inter têm de fazer como Casemiro e Paulinho. Que ignorem os incrédulos e trabalhem acreditando em suas próprias histórias.
Os indícios de 2017 são bons, cada qual em seu cenário. O Grêmio não vergou um gigante europeu no Mundial, mas se tornou tri da América, como São Paulo e Santos. Somando a Copa do Brasil do ano passado, parece ter entrado numa rota de títulos. O Inter não foi campeão da Série B como pretendia, mas subiu um ano depois de cair e não viu o rival repetir a façanha de 2006, o que, no âmbito da rivalidade Gre-Nal sadia, inflou a auto estima colorada.
Admito que talvez seja exagero crer numa campanha eleitoral com um pingo de ética e sem o submundo carniceiro da política e seus patrulheiros online, mas somente o exercício da crença na tolerância já vale a pena.
É preciso saber viver, como diz a canção.