Donald Trump não tem nada a ver com Grêmio e Inter. A cor dos republicanos agora instalados na Casa Branca é o vermelho, enquanto o azul indica os democratas. Tirando essa questão irrelevante e meramente cromática, a vitória do obscurantismo sobre a lucidez, personificada na figura do presidente eleito dos Estados Unidos, não tem a ver com as questíunculas do nosso raso futebol provincial.
Não? Será mesmo que o grande fato da semana, um dos mais significativos da história política mundial em todos os tempos, ainda que pelo lado negativo, de fato não oferece lição aos vestiários do Beira-Rio e da Arena?
Sim, o futebol provincial tem algo a aprender com a eleição legítima de um racista, sexista, xenófobo e paranoico para o cargo público mais importante do planeta.
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Basta examinar o contexto que elegeu um bilionário arrogante numa democracia tão evoluída como a norte-americana. Não foi uma vitória do Partido Republicano. Seus líderes se afastaram da campanha por dois motivos: vergonha e ideologia. À medida que Trump disparava sua metralhadora de intolerâncias, vestindo o figurino populista de promessas irrealizáveis e anunciando uma América forte, seja lá o que isso signifique, qualquer ser humano são sentiria um nó na boca do estômago.
Do ponto de vista econômico e político, sua postura isolacionista radical nada tem a ver com a ideia de livre mercado pregada pelos republicanos. Em tempo: medir o resultado das eleições americanas com a régua coxinhas versus petralhas é o mesmo que ter vontade de casar e, por isso, tomar uma coca-cola. Também está claro que os mais de 60 milhões que voluntariamente escolheram o engomado Trump não são, como ele, racistas, sexistas, xenófobos e paranoicos.
Hillary Clinton teve os mesmos 60 milhões. Sua votação popular foi até maior, só insuficiente para colocar mais delegados no Colégio Eleitoral. Daí, a derrota. Também é errado pensar que seus eleitores são todos anjos do bem. Há uma série de questões internas que explicam a ascensão de um aventureiro imprevisível ao poder nos Estados Unidos, para além das ideologias.
É só refletir um tanto e identificar o caldo caseiro que elegeu Donald Trump, para susto e medo do mundo civilizado: índices regionais altos de desemprego, denúncias de corrupção, o desgaste democrata do poder e suspeitas de que os Clinton, Bill e Hillary, nem sempre andam de mãos dadas com a verdade.
Muitos votaram em Trump pelos piores motivos, mas milhões erraram por motivos nobres, como a alternância de poder ou o risco de a Suprema Corte ficar repleta de juízes com o mesmo perfil, escolhidos por sucessivos governos democratas. Hillary tinha certeza de que a arrogância de Trump o derrotaria naturalmente. Era só encomendar a faixa presidencial. Errou.
COPA DO BRASIL – Este é o aprendizado que Inter e Grêmio devem recolher da eleição nos EUA. O momento gremista é ótimo, com departamento médico vazio, enquanto o Atlético-MG empata e perde com lesionados à mancheia. Do ponto de vista coletivo, o Grêmio é melhor. Mas há nuances que merecem atenção, como as questões caseiras americanas. O Grêmio sua sangue para achar um gol. No Brasileirão, fez menos do que o Santa Cruz: 36 a 35 para o vice-lanterna. Não tem um matador, como Lucas Pratto ou Robinho. Numa decisão, isso pode ser letal. Renato deveria pensar com mais carinho em Everton, que é mais agudo, já para o Mineirão.
REBAIXAMENTO – No Inter, não há tempo para mais nada, como diziam os narradores da antiga quando o apito final se aproximava. Nota-se um pálido avanço defensivo, mas ao preço da inoperância do ataque. Contra o Palmeiras, foram 12 finalizações do Inter. Mais do que o virtual campeão. Todas fracas, despretensiosas, tortas, de longe, quase recuos para o goleiro. De dentro da área, só Anderson, daquele jeito que se viu. A Ponte virá ao Beira-Rio com o drama colorado debaixo do braço. Apostará no contra-ataque, no relógio e nos nervos alheios. Com Ceará lesionado, William tem de voltar à lateral, e não Fabinho ser improvisado para manter William na beirada direita.
ATAQUE DE ASMA – Alex ou Anderson? Um deles. Pelos lados, Sasha e Valdívia. Ou Seijas, quem sabe, se o venezuelano for retirado do cárcere. Mais Vitinho. A obrigação de vencer é do Inter contra a Ponte, e a vitória não cairá do céu. Uma escalação mais arriscada, sim, se a disciplina tática não vier junto. Mas e do outro jeito, resolveu? Grêmio e Inter precisam fazer o que a campanha democrata não fez nos EUA. Que lancem um olhar mais crítico sobre si mesmos, sem acreditar que, assim como está, tudo vai acontecer. Não vai. Nem para o Grêmio, a um passo do título. Nem para o Inter, à beira do abismo. Ambos, à luz de objetivos opostos, têm de reconhecer que seus ataques são de asma e agir para corrigi-los Do contrário, morrerão na praia. Como Hillary.