Por indicação entusiasmada do Ticiano Osório, fui ver “O Golpista do Tinder”, na Netflix, e me entusiasmei também. A história, como o nome do documentário aponta, é de um homem que se aproveita do chamado “aplicativo de paqueras” Tinder para dar golpes em mulheres. Ou seja: ele quer o dinheiro delas.
Mas o que mais me espantou é que ele não quer só o dinheiro delas. Ele transformou essa atividade não apenas em um meio de ganhar a vida, mas em um estilo de vida. O cara é um israelense que circula pela Europa, tendo uma mulher em cada ponto do continente. Uma em Amsterdam, outra em Oslo, outra em Londres, mais uma em Munique. Ele as engana simultaneamente e, assim, faz uma espécie de esquema de pirâmide de mulheres, uma financiando os gastos com a outra, sem saber. E que gastos! O sujeito voa em jatos particulares, se lambuza de caviar e faz reservas de mesas de dois mil dólares em boates.
É uma vida de nababo, mas não uma vida fácil. Ao contrário, é extenuante, toda dedicada às mulheres que ele logra. Um roteiro um pouco parecido com o romance “O Tango da Velha Guarda”, sobre o qual escrevi outro dia. É óbvio que existem motivações psicológicas profundas no que ele faz. Ele sente prazer em conquistar, dominar e, por fim, ludibriar as mulheres. É o ancestral sonho de dominação do macho.
Esses golpes de sedução na Internet não são novidade. A novidade, no caso, é a aposta altíssima que ele faz em cada mulher. Ele começa gastando, sei lá, uns 20 mil dólares, para acabar tirando dez vezes isso. Você deve estar pensando que esse golpista é um galã irresistível. Qual o quê! Trata-se de um tipo comum, todo arrumadinho, meio dândi, sem nenhum atrativo especial. Mas que, em um mês, consegue deixar uma mulher irracionalmente apaixonada.
O que ele faz?
Ele diz o que elas querem ouvir.
Esse é o grande talento do golpista. Na verdade, é o grande talento de qualquer golpista de sucesso. As mulheres que caíram vítimas do golpista do Tinder eram carentes, estavam em busca de paixão, de relacionamentos excitantes. Os homens que caem em golpes semelhantes em geral estão em busca de sexo. Eles acreditam que viverão noites de prazer com beldades e, nessa expectativa, fazem tudo o que elas pedem. O que me faz pensar: como o ser humano é dominado por seus desejos. E como os desejos são soberanos, como suplantam a razão. Se uma pessoa quer muito algo, ela se torna uma escrava dessa vontade. Ela se enfraquece, ela perde o bom senso.
Querer não é poder, querer é perder poder. O desejo não é um combustível, é uma Kriptonita. Por isso, digo sempre o contrário do que é dito por aí: não acredite nessa história de que você tem de lutar incansavelmente pelos seus sonhos, não vá atrás dessa conversa de que você não pode desistir deles. Pode, sim. Às vezes, é o melhor a fazer.