As três manifestações de sentimento mais comuns entre os brasileiros são o choro, o grito de fúria e o urru. O choro nunca ocorre quando o brasileiro comete um erro, nunca é por contrição; é quando ele se sente vítima de perseguição ou coisa que o valha. Aí outros brasileiros vêm, o abraçam, às vezes o beijam e juram que ele é uma pessoa maravilhosa. Então o brasileiro tristonho acredita neles, os abraça de volta e diz que os ama, e eles respondem que o amam e tudo fica lindo.
Aliás, os brasileiros amam muito por meio das redes sociais. Mulheres, principalmente. Quando uma faz aniversário, a amiga publica uma foto dela e escreve: “Hoje é o dia daquela pessoa que mudou minha vida, da pessoa mais querida, mais generosa, mais competente, mais inteligente e mais linda que já conheci”. E os comentários sob a foto são: “Musa!” “Deusa!” “Perfeita!”
Você jamais imaginaria que pessoas tão amorosas pudessem gritar de raiva com outras pessoas. Mas elas gritam. Se se sentem ofendidas ou diminuídas, elas gritam bem alto de indignação, acusam a outra pessoa de algo ruim e, depois que aquela pessoa vai embora, perplexa, elas começam a chorar, aí vêm os outros brasileiros para consolá-las e o ciclo se renova.
Finalmente, tem o urru. Esse é o grito do brasileiro quando ele extravasa sua alegria. Ele grita urru, ele pula, ele festeja e, se a causa da festa for uma vitória, ele chora, aí vêm outros brasileiros para abraçá-lo e dizer como ele é maravilhoso e tudo aquilo que já sabemos.
É assim que nós somos: teatrais, grandiloquentes, emotivos. Lembro de um filme antigo: “Vestígios do Dia”. Os protagonistas são os ingleses Anthony Hopkins e Emma Thompson. Eles fazem o filme inteiro em voz baixa, com gestos contidos e, no entanto, eloquentes. São atuações minimalistas, irretocáveis, que levam o espectador a sentir o que eles estão sentindo e, por essa razão, ter vontade de gritar, chorar e fazer urru, como brasileiros.
Lembro também de outra cena famosa da dramaturgia nacional: numa novela de fim de tarde, Paulo Autran e Fernanda Montenegro se atracam numa guerra de tortas. É um recurso de humor manjado e infantil, já era antigo nos anos 70, mas foi considerado hilário no Brasil. Autran e Montenegro foram elogiadíssimos por suas atuações e a cena vem sendo repetida ad eternum. Quando a vejo, me dá vontade de chorar e gritar brasileiramente.
Portanto, como já disse, nós somos esse povo de pequeno cérebro e grande coração. No entanto, nós nos vacinamos. Olhe para os Estados Unidos, que conduziram o homem à lua. Olhe para a Alemanha, terra de cientistas geniais e engenheiros precisos. Olhe para a Velha Europa e o também velho Japão. Eles têm mais dificuldades em vacinar as pessoas do que nós. Há negacionistas no Brasil? Decerto que há. Há gente mal-intencionada, equivocada ou mal-informada? Sim, a resposta é sim. Mas nós estamos melhor do que eles. Não por uma questão emocional, mas por uma questão cerebral. Nós estamos sendo mais racionais e mais inteligentes. Inacreditável, mas é a verdade. Viva o povo brasileiro.